Texto extraído do livro "Memória Rubro-Negra: de Moto Club a Eterno Papão do Norte":
Quando falamos em figuras que fazem parte e às vezes se misturam á própria história do Moto Club de São Luis, fica praticamente impossível não associar a figura do médico ortopedista Antônio José Cassas de Lima, um dos baluartes na vida do rubro-negro maranhense. No Papão do Norte, além de médico, o Dr. Cassas de Lima foi de tudo: dirigente, conselheiro, auxiliar, Presidente do GAMO (Grupo de Apoio ao Moto) e, principalmente, torcedor. Com muito trabalho, amor e dedicação ao Moto Club, Cassas foi Tricampeão Maranhense em 1968, Bicampeão em 1974, Campeão em 1977 e Tricampeão em 1983.
Nascido em Vargem Grande (MA) no dia 02 de Fevereiro de 1942, Cassas de Lima é casado com Maria da Graça Sousa Cassas de Lima e pai de três filhos (Vinícius, Ulisses e Geovani). Os seus genitores são Ari Teixeira Lima e Florinda Cassas de Lima, esta última descendente de Libaneses com Sírios e nascida na Argentina. A paixão de Cassas de Lima com o futebol vem desde os tempos de garoto, onde aprendeu a gostar da bola. Porém, quando adolescente, o médico mantinha o sonho pela carreira militar ou ser piloto de avião. Como foi logo reprovado nos exames militares e sem condições financeiras para a realização do segundo sonho, a Medicina foi a opção que, segundo o próprio Cassas de Lima, o realizou como profissional. Foi cinco vezes campeão pelo time da Faculdade de Medicina, jogando como zagueiro central. Após vários anos de aprendizado em São Paulo e a formatura, veio a estrada em direção ao Moto Club, a convite do Major Pereira dos Santos, em 1968, época onde o rubro-negro chegou ao seu primeiro tricampeonato estadual.
Durante mais de 20 anos, houve uma perfeita sincronia entre Cassas e o Moto, onde ele manteve sempre uma liderança firme, sempre chefe do departamento médico e diretor do clube (Cassas foi Presidente do Papão em 1980, quando foi buscar jogadores do Vasco da Gama do Rio de Janeiro para o rubro-negro maranhense). Seu consultório, na Travessa da Passagem, Centro de São Luis, é o ponto central das reuniões do clube e Cassas de Lima não faz qualquer objeção, mesmo sacrificando sua profissão, tudo em nome do Moto Club. Ele sacrificou vida, família e patrimônio pelo rubro-negro. O seu consultório era uma espécie de segunda casa dos jogadores, pois diversos atletas eram operados muitas das vezes de graça por ele. Cassas, inclusive, chegou a hospedar jogadores em sua própria residência. Em uma oportunidade, durante um mês segurou leito para um atleta do Moto recém operado chamado Cadinho. O jogador Zé Branco, que rompeu os ligamentos do joelho numa bola dividida contra o goleiro Carlos Afonso, do MAC, em um jogo debaixo de muita chuva, foi operado por Cassas de Lima e passou quase um ano sem jogar.
Cassas de Lima muitas das vezes deixava de ser o Presidente para ser o torcedor, tamanha a sua paixão pelo Moto Club. No Campeonato Maranhense de 1983, a primeira partida do Moto Club na competição, dia 17 de Julho contra o Maranhão, foi anulada pelo TJD e remarcada para o final do campeonato. O jogador Lutércio, em um problema interno, destratou agressivamente a cozinheira do Moto e Marçal Tolentino Serra, pela indisciplina, o barrou. Dr. Cassas, junto com Paulo Brito, o levou para pedir desculpas ao treinador, para que ele fosse reintegrado ao elenco. Sentindo a necessidade de um atleta com o potencial de Lutércio no elenco, Marçal o aceitou de volta após um pedido de desculpas também à cozinheira. Para a decisão contra o MAC, dia 21 de Dezembro, somente participariam os atletas inscritos no início da competição, Marçal acabou escalando Lutércio com a faixa de capitão. Enquanto pôde, Marçal o afastou dos jogos, mas no momento decisivo, por não contar com atletas de peso no banco, acabou o escalando. Marçal não poderia brigar contra Lutércio sabendo que ele era um excelente jogador e que seria fundamental naquela decisão, pois havia jogadores no elenco que não poderiam atuar naquela decisão. Nesse ano, o Moto concentrava no Seminário Santo Antônio, perto do Ribeirão. Lá perto também havia um campinho, onde o Moto treinava. Os atletas de fora, depois, também moravam no hotel Ribeirão e, em dia de jogos, todos se concentravam lá.
Nos anos 80, Cassas, por problemas com dirigentes, afastou-se do Papão do Norte. Na época, especulava-se que o médico estaria assinando com o Sampaio Corrêa. Uma resposta categórica, porém, foi o bastante para encerrar o assunto: “Não servirei outro clube que não seja o Moto. Meu coração é rubro-negro e este sentimento vai comigo para o túmulo!”. Esse era o médico, desportista e apaixonado pelo Moto Club, Dr. Cassas de Lima.