quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Marcial, uma vida dedicada ao gol

Matéria de Edivaldo pereira Biguá e Tânia Biguá, página "Onde Anda Você?", do Jornal O Estado do Maranhão.

Marcial começou jogando na linha. Aos 11 anos de idade, defendeu por acaso o Brasil, do Bairro do Anil. A partir dai ele teve alegrias e decepções com o futebol. Houve um período em que a bebida o afastou dos campos. Mas o amor pela bola e a competência fizeram com que voltasse para se tornar um dos maiores goleiros da história do futebol maranhense. Parou de jogar aos 38 anos de idade. Hoje, é o melhor treinador de goleiros do estado e, segundo vários treinadores que tiveram o privilégio de trabalhar com ele, um dos melhores da região e do país.

O futebol sempre foi o assunto preferido da família do pai de Marcial, o Cabo Miranda Prático, torcedor ranzinza do Sampaio Corrêa Futebol Clube. Dos filhos homens (são três homens e uma mulher), apenas um não quis jogar futebol. Os outros marcaram época no Estado como goleiros. “Entre 1950 e 1962, meus irmãos Leça e Miranda brilharam defendendo os gols do Ferroviário, Sampaio Corrêa e Ícaro, respectivamente”, relembra Marcial, que quando começou a jogar, por volta de 1958, era centroavante e todos no Anil o conheciam como Lecinha, por causa do irmão, que já era famoso.

Marcial nasceu em São Luis no dia 25 de Agosto de 1948, na Rua dos Afogados – Centro, com o nome de José de Ribamar da Silva Miranda Filho. Antes de se estabelecer no Bairro do Anil, a família do Cabo Miranda Prático morou uns tempos no Cutrim/Liberdade. Foi lá que Lecinha (primeiro apelido de Marcial) começou com a bola. O primeiro time oficial em que jogou foi o Brasil, dirigido pelo Frei Herme-negildo, no Bairro do Anil. Lecinha era centroavante. Um dia Zeca Azoline, que era o goleiro titular do Brasil (depois se tornou um dos maiores doleiros de futsal), não apareceu para jogar e acabaram colocando Lecinha no lugar dele. Pronto, a partir daí nasceu o terceiro goleiro da família do Cabo Miranda Prático. “De tanto olhar meus irmão jogando, acabei gostando e me adaptei ao gol”. Outra mudança trouxe a família de Lecinha para a Vila Passos. Por lá ganhou o apelido de Pernambuco. Rapidamente se entrosou com o pessoal do Penharol, onde acabou jogando como centroavante e goleiro.

 Sampaio Corrêa em 1981. Em pé: Cabrera, Paulinho, Rosclin, Jorge Brás, Marcial e Zé Alberto; Agachados: Cabecinha, Edézio, Chiquinho do Arara, Adailton e Fernando Misterioso

 Marcial saindo do gol do Sampaio Corrêa em jogo contra o MAC, em 1982, no Castelão

 Marcial como preparador de goleiros no Sampaio Corrêa Campeão Brasileiro em 1997

 Marcial Campeão Maranhense em 1973 pelo Ferroviário. Em pé: Marcial, Luizinho, Vivico, Alzimar, Santana e Antônio Carlos; agachados: Sarará, Carlos Alberto, Genaro, Esquerdinha e Coelho

Apelido Marcial – em 1962, quando estava com 14 anos de idade, Pernambuco foi convidado para jogar no gol do recém fundado Palmeirinha da Vila Passos, dirigido por Antônio Chulipa. “Eu era magro e alto. Jogava com duas camisas para parecer forte. Chulipa olhou para mim e disse que eu estava parecido com Marcial, que na época era goleiro do Atlético Mineiro. Depois dessa observação, passei a ser chamado e conhecido como Marcial!”. O Palmeirinha projetou Marcial. Vários títulos amadores foram conquistados pelos dois, clube e atleta. Com tranquilidade, segurança, excelentes saídas de bolas altas, vigor físico, senso de orientação que passava à defesa, por ser pegador de pênalti e fazer preciosas distribuições de bolas com as mãos, Marcial foi chamando a atenção de todos que o viam em ação, apesar dos seus 18 anos de idade.

Em 1967, Marcial aceitou o convite para jogar no Vasco da cidade de Viana, interior maranhense, onde acabou integrando a Seleção da cidade que veio disputar o Torneio Intermunicipal em São Luis. Na semifinal, o time perdia por 2x0 para a cidade de Chapadinha. A partida era disputada no Estádio Santa Isabel. No intervalo aconteceu um fato marcante. “O técnico mandou eu aquecer. Eu disse que não ia entrar porque ele precisava era de um atacante para fazer gols e não de um goleiro. Antônio Chulipa, que estava assistindo o jogo ao lado do meu pai, viu que me negava a entrar e me chamou a atenção. Disse que aquela era a chance de mostrar que eu era melhor que Pissirica. Sentia  força que ele me deu u fui para o jogo, aliás, o meu jogo. Fechei o gol e viramos o placar para 3x2. Fui carregado do Estádio até o hotel onde estávamos hospedados, próximo ao Mercado Central, Foi demais. Devo essa até hoje ao Chulipa.”. O Viana conquistou o título do Intermunicipal desse ano ao derrotar na final a Seleção de Pinheiro pro 3x1.

No Torneio Início do Campeonato Estadual de 1968, Marcial defendeu o gol do Vitória do Mar, que era dirigido por Calazans. Pegou tudo o que tinha direito e acabou sendo escolhido pela imprensa como o melhor goleiro da competição. “Vários clubes ficaram de olho em mim, mas quem chegou primeiro foi Antônio Bento, do Sampaio Corrêa”. No Sampaio, Marcial se juntou a Célio Rodrigues, Evilásio, Carlos Alberto, Faísca, Djalma, Fifi, Vico, Tomás, Itamar, Pompeu, Nivaldo e outros. O Tricolor não fez um bom campeonato e em 1969 foi vendido para o Ferroviário. O Moto era o Papão da época, conquistou os titulo de 1966 a 1968.

No Ferrim, Marcial ainda encontrou craques do quilate de Hamilton, Nabor, Barrão, Laxinha, Garrinchinha, os goleiros Maguito e Brito Ramos, dentre outros. “Eles estavam saindo. Em contrapartida, chegavam Iron, Cetel, Zimba, Heraldo, Gimico, Chaves, Vivico e outros. 1969/70 foram os anos do bicampeonato do Maranhão Atlético Clube”. No final da temporada de 69, o Ferroviário enviou Marcial para o Rio Grande do Sul. Lá, ele iria se submeter a testes no Cruzeiro, terceira força do Campeonato Gaúcho. O técnico pegou no meu pé e a saudade de casa era muito grande. Acabei fugindo de volta para São Luis”.

 Marcial pelo Ferroviário

 Marcial como preparador de goleiros no Sampaio Corrêa em 1997

 Marcial no Sampaio Corrêa em 1982, seu último ano como atleta profissional

 Marcial como preparador de goleiros do Sampaio Corrêa campeão do primeiro turno do Estadual de 1998

Marcial como preparador de goleiros do Sampaio Corrêa na Copa Norte de 98


Parte do acervo de troféus conquistados pelo goleiro (foto gentilmente cedida por Marcial)

Dois anos depois, 1971, Marcial concretizou o grande sonho de ser campeão maranhense pelo Ferroviário, que tinha um timaço: ele (goleiro); Miguel, Alzimar, Vivico e Antônio Carlos; Santana, Carlos Alberto e Esquerdinha; Edson, Mineirinho e Orlando. “Essa foi a melhor fase da minha vida. Nem pensamento passava pela minha trave. Me especializei em pegar pênaltis. Só não pegava os batidos por Toca (atacante que jogou no Moto e MAC). Eu sabia onde ele chutava, mas não conseguia defender”.

Marcial jogou no Ferroviário até 1978. Foi bicampeão em 1973. Nesse mesmo ano, participou de uma excursão com o Ferrim à Venezuela e Colômbia. Jogou seis partidas. Ganhou quatro e perdeu duas. Quando o time da estrada de ferro fechou as portas, em 1978, Marcial, desiludido com o futebol, se entregou à bebida. Bebia o dia inteiro. A família estava se esfacelando e ele se sentia um derrotado. Um ano depois, 1979, os amigos Calazans e Humberto Trovão levaram Marcial para o Sampaio. “Renasci! Agarrei a oportunidade e me firmei no Tricolor. Joguei até 1982. No ano seguinte, fui emprestado ao Isabelense, do Pará. Em 1984, retornei e encerrei a carreira de atleta no Sampaio, meu clube de coração, onde trabalhou como treinador de goleiros, graças ao amigo Paraíba, que me prestigiou em uma das vezes que exerceu a função de técnico.”

Como atleta, Marcial foi Campeão Maranhense pelo Sampaio Corrêa em 1980 e 1984. Como treinador de goleiros do Tricolor, levantou os títulos de 1985 a 1988, 1990 e 1997 e 98, além de 2002/03.

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