quarta-feira, 28 de novembro de 2012

O exemplar lateral Baezinho

Matéria de Edivaldo pereira Biguá e Tânia Biguá, página "Onde Anda Você?", do Jornal O Estado do Maranhão.

Sebastião Silva começou jogando futebol de campo nas peladas do Largo da Madre Deus, bairro onde nasceu e foi criado. Tinha o apelido de Tione. Juntamente com ele estavam Joca, Macaco, Zé Timba (hoje conhecido como Lobato, árbitro de futebol) e Siri. Todo eles tinham entre 13 e 14 anos de idade. Em uma dessas brincadeiras, o garoto Tione, completamente entusiasmado com seu desempenho, gritava para os atacantes que tinha a bola tirada por ele: “Aqui é Baé e ninguém vai passar por mim”. Dai em diante, Tione deu lugar a Baé, um lateral que se consagrou no Moto Club, no Maranhão Atlético Clube e na Seleção Maranhense, pela garra, determinação e por nunca ter sido expulso.

O garoto Tione, apesar de ser atleticano, tinha como ídolo o Baé, que jogava na defesa do Moto. Quando ele mesmo se apelidou de Baé e depois foi levado para o Flamengo do Monte Castelo, fins de 1956, integrando a Seleção Estadual de Amadores, teve a oportunidade de jogar contra o Moto em um amistoso no Estádio Santa Isabel. O jogo iria ser transmitido pelo rádio. O Jafé, quando foi pegar a escalação da seleção, não teve dúvidas: chamou o franzino cabeça de área da Seleção de Baezinho. Esse encontro acabou empatado em 2x2 e o garoto Baezinho foi um dos destaques: “O técnico uruguaio Comitante do Moto pediu para o Dr. César Aboud, presidente do clube, me contratar. Com quase 18 anos, assinei meu primeiro contrato não amador com o Papão”. O técnico Comitante resolveu deslocar Baezinho para a lateral-direita e a coisa acabou dando certo. Dali ele nunca mais saiu. Jogando ao lado de feras como o goleiro Bacabal, Noviço, Baezão, Figueiras, Jesus, Magriça, Jonas, Pedro Doido, Peruzinho e Zezico, Baezinho foi bicampeão estadual em 1959/60. “Foi uma época magnifica para mim. Eu estava no auge. Tudo dava certo”.

Depois disso o Moto ficou no jejum de títulos por um bom tempo (1961 a 1965). Em 1966, iniciou a campanha do tri, que só acabou em 1968. No time estavam Bacabal, Baezinho, Terrível, Baezão e Esmagado; Gojoba, Ananias e Neto; Zezico, Nabor e Louro. “Era um time imbatível. Jogávamos por música e levávamos a torcida ao delírio”. Baezinho ficou no Moto de 1957 a 1968. De 1960 a 1966, foi titular absoluto da lateral-direita. Em 1967, perdeu a vaga para Paulo Jaboatão, que veio de Pernambuco. “Eu não era um jogador técnico, mas sabia fazer tudo em campo. Sempre cumpria bem o que os técnicos mandavam fazer. Também gostava de apoiar quando dava. Uma grande característica do craque, que muitos do que o viram jogar lembra, era o arremesso lateral, que ele colocava na pequena área, e na maioria das vezes na cabeça do centroavante. Em 1968 Baezinho fraturou o braço e jogou pouco pelo Papão. Quando Omena, que já havia parado de jogar, foi ser técnico do MAC, o lateral foi fazer-lhe uma visita, No papo, surgiu a pergunta: “como está tua situação no Moto?”. Baezinho disse que estava de passe preso ao Moto. Quando ele menos esperava, recebeu o aviso de um dos diretores rubro-negros que seu passe agora era do Maranhão. 

 Moto Club no Campeonato Brasileiro de 1986. Baezinho, da comissão técnica, é o primeiro em pé

 Treinando as divisões do Moto, em 1996

 Baezinho no auge da sua carreira, em 1959, no Moto Club de São Luis

 Moto Club em 1962. Em pe: Bacabal, Baezinho, Ronaldo, Omena, Laxinha e Corrêa; Agachados: Zezico, Casquinha, Hamilton, Zequinha e Nabor

 Baezinho no Papão do Norte, ao lado de craques como Vila Nova, Zezico, Nabor e o artilheiro Hamilton

 Maranhão Atlético Clube no bicampeonato maranhense em 1969/70. Baé é o penúltimo em pé

 Corrêa, Omena, Bacabal, Carvalho, Baezinho e Ronaldo

 Bae14: Papão do Norte. Em pé: Baezinho, Terrível, Gojoba, Espanhol, Baé, Esmagado e Patrocínio; Agachados: Neto, Zezico, Nabor, Ananias e Louro

 No Maranhão Atlético Clube, ao lado de Hamilton, Dario, Alzimar e outros craques

 Baezinho, Elias e Dario do MAC, em 1969 

 Baezinho, o primeiro em pé, no Maranhão de 1969

 Baezinho, o primeiro em pé, na comissão técnica do Papão em 1995

 Baezinho na comissão técnica do Papão no início da década de 90

 Com a camisa do Papão na década de 60

 Baezinho vestindo a camisa do Moto Club em 1963

 Baezinho, ao centro, em jogo de faixas pelo título de tricampeão do Papão do Norte, em 1968

No ano seguinte o MAC monto um timaço: “Jogamos três vezes contra o Moto e vencemos por 2x0, 2x1 e 3x1. Foi o máximo para mim. Dr. César Aboud ficou zangado por não saber que haviam me transferido. Ele dizia que eu era patrimônio do Moto e que o haviam traído. O MAC foi campeão em 1969 com o futebol de Da Silva, Baezinho, Ibis, Carlos Sansão e Elias; Iomar, Toca e Almir. Euzébio, Jacinto e Dário. Em 70, outro título pro MAC, o Demolidor de Cartazes. Dessa vez a equipe formava com Brito, Baezinho, Sansão Luis Carlos e Elias; Almir, Iomar e Antônio Carlos; Euzébio, Hamilton e Dário. “Foi demais pra mim ser bicampeão pelo meu time de coração. Uma emoção inesquecível”, suspira Baezinho. Durante o tempo em que passou no Maranhão, Baezinho foi titular absoluto e capitão da equipe. Seus dois maiores orgulhos são ter defendido os clubes por onde passou com muito profissionalismo e, apesar de jogar na defesa, nunca ter sido expulso de campo. Já era pra ter sido condecorado com o prêmio Belfort Duarte, que é dado pela antiga CBD, hoje CBF, aos atletas profissionais que nunca receberam um cartão vermelho. “Ainda posso ser homenageado, basta a Federação Maranhense de Futebol querer. Eles podem juntar documentos, súmulas, relatórios e enviar tudo para a CBF, que eu serei condecorado”.

A carreira do disciplinado atleta foi acabando na década de 70. Nos primeiros anos ainda chegou a jogar no São José e Vitória do Mar. Em 1975 passou a dirigir as equipes juvenis e júnior do Vitória do Mar e auxiliou o time principal. Esteve no Ferroviário em 1978, mas por pouco tempo. Voltou ao Moto, contratado pelo médico Ibrahim Assub e pelo radialista Magno Figueiredo para tomar de conta das categorias de base. “Me dá prazer trabalhar com os jovens. Mostrei e continuo mostrando que fiz e falo muito pelo nosso futebol. Lamento que os dirigentes não fizeram por mim nem metade do que fiz pelos clubes que eles dirigem”. Um guerreiro acostumado com títulos e um exemplo a ser seguido. 

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