sábado, 21 de setembro de 2013

Euclides Pinto Martins, o piloto do hidroavião Sampaio Corrêa II



Busto de Pinto Martins no aeroporto que leva o seu nome, em Fortaleza (CE)

O nome Sampaio Corrêa surge em homenagem ao hidroavião Sampaio Corrêa II, que aportou em São Luís no dia 12 de dezembro de 1922, sob o comando do piloto brasileiro Pinto Martins e do americano Walter Hinton. O avião tinha sido doado pelo senador carioca José Mattoso de Sampaio Corrêa, presidente do Aeroclube Brasileiro, por isso levava seu nome. Aliás, foram dois os aviões doados pelo senador: Sampaio Corrêa I e Sampaio Corrêa II, sendo que o primeiro pegou fogo, antes do segundo ser doado. Os dois pilotos tentavam realizar a primeira ligação aérea entre as Américas, levantando voo dos Estados Unidos para o Brasil. A vestimenta dos pilotos também deu origem ao primeiro uniforme do clube, pois o brasileiro usava camisa verde e amarela, em linhas verticais e o americano nas cores verde e branca. Ambos vestiam calça caqui. Estas cores foram utilizadas durante muito tempo no uniforme do clube.

Euclides Pinto Martins nasceu em Camocim (CE) no dia 15 de Abril de 1892 e faleceu no Rio de Janeiro, em 12 de Abril de 1924. Foi um aviador brasileiro. Ainda jovem e em fins de 1922 foi escolhido como parte da tripulação de um avião fretado pelo jornal "The New York World", que patrocinava a tentativa de uma viagem aérea pioneira entre as Américas do Norte e do Sul. A viagem começou em Nova Iorque, em novembro de 1922, e terminou no Rio de Janeiro, em fevereiro de 1923, após terem sido cobertos os 5678 quilômetros do percurso com cem horas de vôo a cada instante interrompidos pelos mais variados problemas, e primeiro pouso em águas brasileiras ocorreu no dia 17 de novembro de 1922, quando Martins e seus colegas americanos aterrissaram na foz do rio Cunani. O episódio foi posteriormente narrado pelo próprio Pinto Martins a um repórter do Jornal "O Estado do Pará":

"Quando levantamos vôo de Caiena encontramos forte temporal pela proa. Rompemos o mau tempo com dificuldade, mas tivemos de procurar abrigo. Tomei a direção do aparelho (ele era co-piloto) e depois de reconhecer o rio Cunani aí descemos às 3,30 horas. O tempo, lá fora, era mpetuoso e ameaçador. Não nos foi possível prosseguir e passamos a noite matando mosquitos e com bastante fome, pois não contávamos interromper a rota". Essa e outras aventuras tornaram a viagem New York-Rio uma terrível aventura de obstáculos, só superados pela coragem dos tripulantes.

O trajeto percorrido por Pinto Martins na viagem ao Brasil compreendeu o seguinte roteiro: Nova York – Charleston – Nassau – Porto Rico – Martinica – Port-of-Spain – Georgetown – Paramaribo – Caiena – Belém (PA) - Bragança (PA) – São Luís(MA) – Camocim (CE) – Aracati (CE) – Natal (RN) – Cabedelo (PB) – Recife (PE) – Maceió (AL)– Salvador (BA) – Porto Seguro (BA) – Vitória (ES) – Cabo Frio (RJ) e Rio de Janeiro. Após alcançar 6.143 milhas, em 175 dias e 100 horas de vôo, Pinto Martins desembarca na cidade do Rio de Janeiro, no dia 8 de fevereiro de 1923. Na chegada com o "Sampaio Corrêa II", o cearense foi aclamado como herói nacional e teve calorosa recepção comandada pelo presidente da República, Artur Bernardes. Jornais da época relataram que naquele dia, toda a cidade do Rio de Janeiro parou para homenagear o feito do aviador cearense.

Comércio, indústrias, escolas e demais entidades ligadas à esfera do Distrito Federal deixaram de funcionar às 9 horas para que a população pudesse acompanhar o pouso do "Sampaio Corrêa II", que ocorreu precisamente às 9h40min, na baia de Guanabara. A multidão que presenciou o feito de Pinto Martins foi estimada em cerca de 500 mil pessoas. A comissão especial de recepção ao cearense no Rio de Janeiro foi constituída por várias autoridades, entre elas o prefeito da Cidade, Alaor Prata, e o presidente do Aero Clube do Rio de Janeiro, Sampaio Corrêa. Após o desembarque, o comandante da Defesa Aérea do Litoral, capitão-de-mar-e-guerra Protógenes Guimarães, ofereceu a Pinto Martins e a sua tripulação um almoço comemorativo em um dos hangares da ilha das Enxadas. A título de informação, a estação de passageiros de hidroaviões do Aeroporto Santos Dumont, edificação construída às margens da Baía de Guanabara, foi inaugurada pelo Presidente Getúlio Vargas em 29 de outubro de 1938, 15 anos após o feito do ilustre cearense. Funciona hoje no local, vizinho ao Aeroporto Santos-Dumont, um clube da Aeronáutica. Martins foi recebido pelo presidente Artur Bernardes e recebeu um prêmio de 200 contos de réis. Viajou à Europa, voltou ao Rio e iniciou negociações para explorar petróleo.

Em 1952, atendendo as aspirações dos seus conterrâneos, o Presidente Café Filho sancionou Lei no Congresso oficializando o nome de Pinto Martins para o aeroporto da capital cearense. Justiça, mas ainda pequena, para o homem dinâmico que na década de 1920 soube antever a importância econômica da ligação aérea regular entre os Estados Unidos e o Brasil. E que teve coragem de investir na exploração de petróleo, no Brasil, quando isso era por todos apontado como uma loucura (Sobre a relação de Pinto Martins com a exploração do petróleo, há algumas informações adicionais no livro de Monteiro Lobato "O Escândalo do Ferro e do Petróleo", que o coloca como um dos mártires dos estudos de prospecção de petróleo no Brasil). A viagem New York-Rio de Janeiro também era considerada loucura, mas ele a concluiu. O Aeroporto Internacional Pinto Martins, aeroporto de Fortaleza, leva seu nome.

O livro "Pinto Martins", escrito pelo cearense Tácito Theófilo Gaspar de Oliveira, descreve a repercussão dada pela imprensa carioca ao feito do aviador cearense. O jornal "Correio da Manhã" estampou em sua primeira página: "Os heróicos tripulantes do 'Sampaio Corrêa II' vão receber hoje, enfim, as homenagens do povo da Capital do Brasil". A edição do dia seguinte, do mesmo jornal, afirma: 'O Rio recebeu ontem entusiasticamente os gloriosos tripulantes do Sampaio Corrêa II'. O corpo da matéria diz que '...o hidroavião amerissou na Guanabara às 11h45min, em meio de vibrantes aclamações da massa popular que enchia o recinto da exposição'. O periódico "A Noite", em manchete, destaca: 'A etapa da consagração". O texto da reportagem ressalta que "os heróis do Reide Nova York-Rio nos braços do povo carioca'. E ainda: 'Eletrizante o entusiasmo da chegada dos gloriosos aviadores Hinton e Martins'. No periódico carioca "O Jornal", a manchete de primeira página diz 'Terminou o Reide Nova York-Rio' e cita que 'a chegada dos gloriosos aviadores Pinto Martins e Walter Hinton foi uma verdadeira apotheose popular'.
A morte de Pinto Martins

Pinto Martins morreu no dia 12 de abril de 1924 de maneira prematura e ainda pouco esclarecida, com apenas 32 anos. Por ironia do destino, precisamente um ano e dois meses após ter concluído a memorável travessia sobre o Atlântico. Até hoje, não existe um consenso formado sobre a causa da morte do ilustre cearense. A versão amparada por investigações policiais da época apontava para o suicídio. Existem, no entanto, várias controvérsias sobre o desaparecimento do herói cearense da aviação. O escritor paulista Monteiro Lobato tem um argumento muito incisivo sobre o motivo do desaparecimento prematuro do cearense. Em seu livro "O Escândalo do Petróleo", Monteiro Lobato revela o envolvimento de Pinto Martins com o projeto de prospecção de petróleo, assunto que naquela época era considerado verdadeiro tabu no Brasil. O cearense foi identificado na ocasião como um dos precursores da campanha nacionalista O Petróleo é Nosso. No capítulo 'Os Primeiros Mártires do Petróleo', o livro de Monteiro Lobato faz um relato sobre o mártir número um do petróleo brasileiro, no caso José Bach, 'um incompreendido sábio alemão que o destino fez encalhar em Alagoas...'. Na mesma publicação, Lobato tenta elucidar a forma misteriosa que envolveu a morte de Pinto Martins através da seguinte passagem: 'Mais tarde, um senhor de Maceió adquire da viúva Bach os estudos do infeliz geólogo e associa-se com Pinto Martins para a renovação da iniciativa'.

O grande cearense, que escreveu seu nome com destaque na história da aviação brasileira, foi encontrado morto em um quarto de hotel do Rio de Janeiro, no dia 12 de abril de 1924, pouco mais de um ano após a realização do reide sonhado, sem que ninguém compreendesse tal tragédia. O livro "Pinto Martins: Mártir Número Dois do Petróleo" narra que, na véspera do suposto suicídio, Pinto Martins havia telegrafado ao seu sócio em Maceió. O texto dizia assim: 'Negócio fechado; assinarei contrato dentro de três dias. A sua papelada – mapas, relatórios e mais estudos de José Bach em seu poder – tudo desapareceu'. No livro "Escândalo do Petróleo e do Ferro", também de Monteiro Lobato, o autor sustenta que Pinto Martins foi vítima dos 'poderosos lobbys interessados em atrasar o desenvolvimento brasileiro'.


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