sábado, 5 de outubro de 2013

Especial "Como surgiu o futebol em São Luis" - Jornal O Imparcial (1957)

Neste post, deixo a transcrição de um especial do Jornal O Imparcial, de 1957, sobre a chegada do futebol em São Luis. O especial, intitulado "Como surgiu o futebol em S. Luiz", foi escrito pelo jornalista Nonato Masson e editado em três edições de O Imparcial - nos dias 01, 02 e 03 de Abril de 1957.

A primeira partida de futebol foi realizada em S. Luis, no dia 7 de setembro de 1907, no antigo campo da Fabril, hoje “Estádio Santa Isabel”, entre o Black and Red e o Blue anda White, clubes internos do Foot-ball Athletic Club, conhecido como FAC.

Dirigiu o prélio o inglês Jasper Muoel, gerente da Bootha Line, nesta capital. Logo a seguir o FAC enfrentou o Kaki. Estava, assim, introduzido o association no Maranhão.

O industrial maranhense Joaquim Moreira Alves dos Santos, familiarmente chamado de Nhozinho Santos, educado na Europa, de espírito dinâmico e curioso, foi quem trouxe a novidade para São Luis. Além da primeira bola de couro, das primeiras xuteiras, meias e camisas para a prática do futebol, foi Nhozinho Santos quem trouxe para S. Luis, o primeiro automóvel, o primeiro fonógrafo e o primeiro aparelho de cinematógrafo.



Proprietário da Companhia Fabril Maranhense (atual Fábrica de Tecidos Santa Isabel) fez construir um campo de futebol nos fundos do seu estabelecimento industrial. Organisou o Football Athletic Club (que ficou conhecido como FAC) além de três times internos, denominados Kaki, Black and Red e Blue anda White.

Os clubes eram integrados, na sua maioria, pelos ingleses funcionários da Booth Line e da Western Telegraph Company (Cabo Submarino Ingles). O FAC adotava as cores da bandeira do Maranhão: branco, vermelho e preto. Os jogos, porém, só eram assistidos pelos sócios do FAC, constituindo-se conseqüentemente privilégio da elite.

Em 1910, foi estinto o quadro de futebol do FAC e o mato invadiu o campo da Fabril. Continuou o FAC na crônica da cidade, apenas como clube social (com sede no atual prédio onde estão instalados o Aéreo Club do Maranhão, o SESC e o SENAC), onde se reunia o “graund-monde” da época.

Sete anos mais tarde, isto é, em 1917, Gentil Silva (atual diretor da secretaria da Academia Maranhense de Letras), depois de alguns anos permanecia em Manaus, onde praticou o futebol e fez crônicas esportiva, retornou a S. Luis e, juntamente com José Italiano (um caixeiro-viajante) fundou o Guarany Sport Club.

O nome do time nasceu por sugestão do Sr. Gasparinho, proprietário do Bar Guarany, que ficava situado no Largo do Carmo, à volta de cujas mesas eram feitas as reuniões dos directores e jogadores do clube.

Pois bem, Gentil Silva e José Italiano alugaram o campo da Fabril, roçaram o mato, adaptaram o terreno para novas práticas de futebol e, a exemplo do FAC, criaram dois clubes internos, que representavam o segundo e terceiro quadros do Guarany. Os dois clubes internos chamavam-se Alemão e Francês.

A I Grande Guerra Mundial estava no auge e fez com que os novos clubes se popularizassem rapidamente.

Assim foi. Abriu-se, outra vez, o campo da Fabril e, pela primeira vez, o grande público teve oportunidade de assistir aos jogos de futebol.

Formaram-se, prontamente, duas torcidas: a dos “aliados”, sob o comando dos empregados do Cabo Submarino Francês, que existia nesta cidade, e a dos “germalófilos”, esta comandada pelo maestro Adelman Correa e que contava com trovadores (nome dado aos torcedores) da tripulação de dois navios mercantes alemães que se abrigaram, por muito tempo, em nosso porto.

O Guarany adotava as cores branco-vermelho e azul. O êxito alcançado pelo Guarany de Gentil Silva e José Italiano sugeriu, aos antigos elementos do FAC, a reorganização do time.

Entraram em ação. Ressurgiu o FAC. Desapareceu o Guarany, à falta de campo. E os jogos passaram a ser privilégio dos sócios do FAC, que era gente da alta sociedade.  

O portão de entrada, que Gentil Silva mandara abrir no campo da rua Grande, foi fechado e os sócios do FAC passaram novamente, a ter ingresso ao campo pelos fundos da sede do FAC (atual prédio onde funcionam o Aéreo-Clube do Maranhão, o SESC e o SENAC).

Gentil Silva, no ano seguinte, mais uma vez, chefiou um movimento, no sentido de fazer futebol para o grande público, dando divulgação, entre nós, ao “jogo de futebol”.

Fundou, então, o Onze Maranhense Futebol Clube, reunindo, em suas fileiras, jovens empregados do comércio e rapazes dos subúrbios. Era ele, além de presidente, o técnico-instrutor do quadro. Vermelho-branco e preto eram as cores do “11 Maranhense”.

Conseguindo, como intendente da capital, capitão Luso Torres, , um terreno baldio (no local onde, atualmente, encontram-se as obras da futura sede di Casino Maranhense, na Avenida Beira Mar) e, com a Judá da intendência municipal (hoje prefeitura municipal) fez construir o segundo campo de futebol em S. Luis. Era o campo do Onze Maranhense F. C.

Juntamente com o Onze Maranhense surgiram o Anilense F. C. (do Anil), o Camboense (da Camboa), o Bangú F. C. (da Madre de Deus), o Hercules F. C., o Paulistabo F. C., o Cruz Vermelha S. C., o Fenix F. C., o Baluarte F. C.m e o Barroso F. C.

Desde aí, então, o futebol popularizou-se em S. Luis. Os jogos eram franqueados ao público, que não pagava entrada para assisti-los e nem precisava ser sócio da entidade alguma para ter direito de acesso ao campo do Onze Maranhense F. C., à Beira-Mar.

Pelo esposto acima, vê-se claramente que Nhozinho Santos e Gentil Santos foram assim como o “primo rico” e o “primo pobre”, respectivamente, do futebol maranhense, pois, enquanto este lutou pata popularisar, entre nós, o esporte bretão, levando-o, gratuitamente, ao encontro das multidões, o industrial Nhozinho Santos só fazia futebol de portões fechados para o “society”. Futebol de Nhozinho Santos era “jogo proibido”, ao grande público. Futebol de Gentil Silva era entra todo mundo que Salim ta pagando...

Corria o ano de 1919. O comerciante português Edgard Figueira, e alguns elementos da colônia lusitana, desta capital, fundaram o Spot Club Luso-Brasileiro.

Mandou construir um campo (o terceiro que se fazia em S. Luis) na Quinta do Monteiro, na rua do Passeio, pegado ao Hospital Português. Era o campo do S. C. Luso-Brasileiro. Azul e branco eram as cores do Luso-Brasileiro.

Com a fundação do Sport Club Luso-Brasileiro foi implantado o profissionalismo em nosso futebol, revido á rivalidade que passou a existir entre o FAC e o Sport Club Luso-Brasileiro.


O FAC chegou até a contratar jogadores do famoso Arsenal English Club, de Londres-Inglaterra, enquanto o Luso-Brasileiro era constituído de profissionais do Pará, Ceará, Pernambuco e S. Paulo. O futebol estava no auge em S. Luis.

Certa vez, enquanto o Internacional F. C., de Parnaíba, jogava contra o FAC no campo da rua Grande, na Fabril, o Luso-Brasileiro, no campo da rua do Passeio, enfrentava o Paissandu, de Belém do Pará.

Dia de jogo era dia de festa. Haviam torcidas organizadas. As moças vestiam roupas com as cores dos seus clubes favoritos. Vendiam fitas para lapela. Os homens usavam bandeiras para acenar. Os clubes entravam em campo ao som de “dobrados”. Os gols eram comemorados com foguetes, ronqueiras e banda de música. Sombrinhas, guarda-chuvas, chapéus e buquês de flores naturais eram atirados dentro do campo. Depois da vitória, os jogadores eram carregados pelos “trovadores” (nome dado aos torcedores). Desfilavam em frente da sede do adversário, gritando os hip! Hip1 hurranh!. À noite, havia baile para comemorar a vitória. O futebol dominava a alma coletiva.

O Sr. João Raimundo dos Santos (atual gerente deste Jornal Pequeno) era proprietário nesta capital, da Fábrica de cigarros “Gato Preto” (que ficava situada à rua 28 de Julho). Dada a grande popularidade do futebol, num inteligente golpe de publicidade, lançou no mercado os cigarros “Luso-Brasileiro” e “FAC” (cujas carteiras custavam 200 réis, cada). Dentro das carteiras distribuía, impresso em papel crouchê, nas cores características, distintivos do Luso e do FAC, conseguindo realizar grandes vendas.

A UMD (União Desportiva Maranhense) foi, então, transformada em LMS (Liga Maranhense de Sports), no ano de 1919 e a 27 de novembro de 1920 conseguiu filiação na CBD, desaparecendo, em conseqüência, a UMD. O Dr. Alarico Pacheco foi o primeiro presidente da LMS.

Filiaram-se à LSM, o Paulistano F. C., Fenix F. C., Camboense F. C., Vasco da Gama F. C., Cruz Vermelha S. C., Anilense F. C., Dublin, Santa Cruz, S. Cristovão, Itararé, América, Luso-Brasileiro e FAC.

Gerson Tavares ressurgiu o Guarany, que havia sido fundado por Gentil Silva.  


Em 1923, surgiu o Sampaio Corrêa Futebol Clube. Em 1925, apareceu o Tupan Sport Club.
Formaram-se outros clubes menores, tais como o Barroso, Recife, Brasil, Hercules, Paisandú, Maranhense, Internacional, Norte, Servo Dourado, Baluarte, Colombo, Nacional, Spartano e União, que tiveram vida efemera.

A 25 de junho de 1927, a LSM foi transformada, pelo Dr. Antonio Lopes, em AMEA (Associação Maranhense de Esportes Atléticos). Em 1928, inaugurou-se o Sport-Club Sírio-Brasileiro. E tinha início, então, nova era na história do futebol maranhense.

2 comentários:

  1. Tenho 54 anos sou Motense e achei muito interessante este relato sobre a história do nosso futebol muito boa mesmo.

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  2. Será possível vc procurar a participação do Maranhão no campeonato brasileiro de seleções juvenis na década de 70?

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