domingo, 13 de outubro de 2013

Fifi e Djalma Campos, a afinada Dupla de Ouro do futebol maranhense

 A afinada dupla Fifi, com a camisa do Sampaio, e Djalma, com o manto do Papão

Fifi e Djalma Campo, durante muitos anos, foram alguns dos grandes nomes do futebol de São Luis, Revelados na mesma época, a dupla começou bem cedo, na época em que começaram dar os primeiros chutes em campos de várzea no Bairro do Desterro ou nas quadras do Colégio Marista. Ao lado de João Bala, fizeram fama e carreira no Sampaio Corrêa e Moto Club. A vida de Fifi e Djalma se misturava dentro de fora dos gramados: dentro dele, a perfeita combinação de habilidade que os colocaram no patamar de eternos craques; fora deles, a amizade que durou até 2009, quando Djalma foi vitimado por um infarto fulminante.

Rapidez e habilidade com a bola nos pés foram as características que fizeram despontar o garoto Fernando Lima do Nascimento, aquele que todos só conheciam por Fifi. Para chegar a ser um dos grandes jogadores de futebol de salão do Maranhão e um craque na meia direita e ponta direita no futebol de campo, foi apenas questão de tempo, já que paixão pela bola ele sempre teve. Desde os 12 anos de idade Fifi enchia os olhos de quem ia sempre bater uma bola ou dar uma olhada nas peladas da Quinta do Macacão, área onde hoje está instalada a sede administrativa da Caema. Também pudera, ao lado dele jogavam feras como Maranhão, Cauby, Caíto, Joca, Frajola, José Amuar e o seu maior incentivador, o irmão Antônio Carlos. E foi justamente ele, que treinava no MAC, a apresentar Fifi ao técnico Calanzas. Com 14 anos de idade o garoto não causou boa impressão ao professor. “Calanzas queria homens treinando no time e não garotos, por isso nem me deixou mostrar o que eu sabia”, relembra o craque em sua primeira decepção como jogador.Mesmo chateado, ele não desistiu. Aluno do Marista, estava sempre em contato com o grupo da bola. Fez amizade com Djalma Campos e os dois eram chamados constantemente para defender o time do ginasial e do científico. Despontando nos amistosos, logo foram chamados a fazer parte da equipe principal. Aos 16 anos, Fifi recebeu o convite para integrar o juvenil do Sampaio, do finado Barroso. Apesar da excelente campanha, o grupo terminou como vice-campeão, atrás do Moto. No ano seguinte, o Sampaio formava com um timaço com jogadores do quilate de João Bala, Cadinho, Cazoca, Eraldo, Djalma, Marisca, Zé Arnold, Netinho, César Habibe, dentre outros. Fifi amadurecia ao lado de tanto gente boa. Atuando com muita afinidade, os craques arrebataram os títulos de 1964/65/66. Praticamente o time inteiro foi para a equipe principal do tricolor em 1967. Fifi já se tornara um ídolo por causa da sua incrível habilidade na meia e na ponta-direita. Um jogador arisco, cuja principal escola tinha sido o futebol de salão. A busca de espaços onde não havia e a rapidez com que conduzia a bola no ataque, deixando os marcadores para trás, sempre faziam a torcida delirar. Foi nessa época que ele recebeu o convite do empresário Mário Lira para treinar no Vasco da Gama, do Rio de Janeiro. Mas o seu pai, Hilton Nascimento, que já o havia proibido de jogar bola por causa dos estudos, não deixou que viajasse.

Mesmo sendo a bola uma paixão, Fifi mantinha na cabeça a preocupação com seu futuro. Ficou no Sampaio até 1971, mas paralelamente trabalhava no banco do comércio e indústria de Minas Gerais. Como não tinha tempo para treinar, os dirigentes se viam obrigados a emprestá-lo a clubes menores, como São José e Graça Aranha (GAEC). Em 1972 ele já estava fora dos graamdos, sem nunca ter tido o sabor da conquista de um titulo profissional

Já Djalma Campos foi um dos maiores jogadores surgidos no futebol maranhense, em todas as épocas. Nasceu na cidade de Viana e ainda pequeno mudou-se com a família para o bairro do Desterro, no centro histórico de São Luis (o ex-craque foi velado na rua da Palma, 652, no bairro do Desterro, próximo à igreja). Com apenas 12 anos de idade já mostrava muita intimidade com a bola. Deu seus primeiros chutes no campo frente à igreja do Desterro, junto de outros garotos que se destacaram no futebol do Maranhão, como Santana, João Bala, Jovenilo e Fifi. Jogou depois no São Cristóvão, no Santos e Botafogo do Anil, do “seu Chuva” e no segundo quadro do Esporte Clube Desterro, que era dirigido por seu pai, Djalma Gomes Campos. O bairro do Desterro foi uma verdadeira fábrica de bons valores, onde surgiram outras revelações do futebol maranhense, como Enemê, Japi, Carro-Velho, China e Pindura, entre tantos outros. E não eram muitos os locais para se jogar. Além do Largo do Desterro havia o campinho da “Ford”, o “Quartel de Polícia”, hoje Convento das Mercês, as ruas e o campo da Oleama, no Dique, onde um goleiro não enxergava a outra trave, porque no meio do caminho havia a esquina da fábrica Chagas & Penha.

A habilidade que mostrou nos campos de futebol foi adquirida nas quadras de futebol de salão. Desde garoto, com 16 anos já se sobressaia no Atenas, time do bairro do Desterro. Quando o Sampaio montou sua equipe juvenil, ele foi convidado a fazer parte dela. Era a época de times como Vitex, Elmo, Flamengo (Monte Castelo), Real Madri e ainda o Drible. Em 1968, quando já era jogador profissional foi convidado a jogar a Copa do Brasil de Futsal pelo Drible, tendo sido inscrito com o nome do seu irmão Delmar. Como o time não se preparou adequadamente não venceu nenhum jogo, mas ainda assim Djalma foi considerado o melhor jogador da competição. Ele era incomparável com a bola nos pés, não dava chutes à toa e costumava desmoralizar os goleiros com colocadas geniais. Apesar de ter marcado inúmeros gols, sua maior preocupação era armar as jogadas para outros artilheiros.

A primeira oportunidade que Djalma teve para jogar em um dos “grandes” do futebol maranhense foi através do goleiro Campos, que o levou para o Maranhão Atlético Clube, junto com os amigos João Bala, Santana, Fifi e Jovenilo. Mas não deram sorte, o técnico Calazans nem se dignou a assisti-los jogando. E o quinteto foi parar no Graça Aranha F.C., e por lá permaneceu por um bom tempo. Anos depois, Calazans teve a humildade de reconhecer que errou ao barrar Djalma no início de sua carreira como jogador. Mas depois conviveu com ele no Sampaio, por isso dizia que o jogador nasceu numa época e no lugar errado: “Se Djalma Campos tivesse jogado num grande centro, com certeza teria sido o dono da camisa 7 da seleção brasileira”.

Em 1968 Djalma já era já era o destaque do time do Graça Aranha, chamando a atenção do desportista Guido Bettega que comprou seu passe e o deu de presente ao Moto Clube. Por jogar no adversário do Sampaio Corrêa, a família inteira de Djalma virou-lhe as costas. Naquele mesmo ano o Moto foi campeão estadual e campeão do Norte. O time formava com Vila Nova – Paulo - Alzimar - Alvindaguia e Corrêa - Ronaldo - Santana - Djalma e Amauri - Pelezinho e Ribamar. Em 1969 o Moto perdeu o título para o Maranhão Atlético Clube.

O Sampaio, que não fazia boa campanha no “Nordestão”, resolveu lançar o “Sampaio Setentão”, um projeto para montar um grande time. O primeiro contratado foi Djalma que ganhara passe livre no Moto Clube. Finalmente, aos 23 anos de idade o jogador vestiu a camisa do time da sua família. E não deixou por menos, encantou a todos, dirigentes, torcedores e imprensa. Era a época dos dirigentes José Carlos Macieira, Humberto Trovão, Ari e Zé Barbosa. O presidente era Rupert Macieira, que substituiu Walter Zaidan. O técnico era o paraibano Edésio Leitão. Uma curiosidade é que Djalma, mesmo tendo jogado profissionalmente pelo Moto Clube, não se adaptava ao uso de chuteiras. Para resolver o problema, passou a andar em casa de chuteiras. No gramado, após os treinos ficava sozinho cobrando faltas e aperfeiçoando seus chutes. Mas o Maranhão conquistou o bicampeonato.

Em 1970, já consagrado como um verdadeiro craque foi convidado a concorrer a Câmara Municipal de João Pessoa. E foi eleito com mais de 2.500 votos. Passou então, a dividir suas atenções entre a política e o futebol. O Sampaio tinha um timaço, onde se destacavam Edimilson Leite, Gojoba e Pelezinho, mas ainda assim o campeão foi o Ferroviário.

Em 1972 o Sampaio Corrêa foi campeão do “Brasileirinho” (2ª Divisão), derrotando o Campinense da Paraíba, no jogo final. Naquela época, o Campeonato Brasileiro da Segunda Divisão não era oficial e não dava acesso à primeira divisão, já que os times disputavam o Brasileirão por convites da antiga CBD, hoje CBF.Djalma teve oportunidade de se consolidar como o grande ídolo da torcida. Sob o comando do técnico Marçal Tolentino Serra, o time campeão formou com Jurandir - Célio Rodrigues - Neguinho - Nivaldo e Valdecir Lima - Gojoba e Edmilson Leite – Lima – Djalma Campo - Pelezinho e Jaldemir. Destes, Valdecir também já é falecido.

Aproveitando o sucesso, Djalma se candidatou a reeleição na Câmara Municipal. E ai aconteceu um verdadeiro clássico nas urnas. O jogador Faísca, do Moto também concorreu. Todos queriam saber quem venceria esse duelo político. Deu Djalma, que conquistou mais de 4.500 votos, contra 3.100 de Faísca, que também se elegeu. Depois da conquista do “Brasileirinho” a meta do Sampaio Corrêa era o título estadual. No jogo decisivo contra o Moto aconteceu o inesperado: o goleiro Jurandir pediu dispensa e o reserva Campos estava doente. O atacante Zezé teve que ser improvisado no gol. O resto do time tinha Ferreira – Neguinho - Nivaldo e Eraldo (Valdecy - Gojoba e Edmilson Leite – Lima – Djalma - Pelezinho e Jaldeny (Vamberto). O empate em 1x1 deu o título de campeão maranhense de 1972 ao Sampaio Corrêa.

Em 1973 Djalma deu um passo maior na política, concorrendo a deputado estadual. E se elegeu com facilidade, foi o terceiro mais votado, com quase 14 mil votos. No futebol, o Sampaio montou um grande time para disputar o Campeonato Nacional: Orlando (Portuguesa) - Marinho (Paraná) - Moraes (bi-campeão pelo Cruzeiro) - Raimundo e Santos (Portuguesa) - Lourival (Sudeste) - Sérgio Lopes (Curitiba) - Buião (Atlético MG) - Dionísio (Flamengo) - Ailton (São Paulo) e Djalma. Técnico: Alfredo Gonzalez. Preparador Físico: Gualter Aguirre. Os resultados positivos apareceram de imediato. Jogando em São Luis o Sampaio Corrêa derrotou todos os times cariocas que enfrentou: Vasco da Gama, 2x0, Botafogo , também 2x0, Fluminense 3x1 e América, 1x0. Nesse jogo, já em fim de carreira, Djalma foi autor de uma jogada inesquecível: aplicou uma “barata” (enfiou a bola entre as pernas) do jogador Ivo, que recentemente havia sido convocado para a seleção brasileira. Ivo, até que tentou evitar o vexame, mas não conseguiu. O inesperado sempre fez parte dos desconcertantes dribles de Djalma. O Sampaio, não alcançou classificação porque fora de casa perdeu todos os jogos.

Djalma parou de jogar em 1974. No ano seguinte, quando já era presidente do Sampaio, foi obrigado a voltar aos gramados, porque às vésperas da decisão estadual o meia Joel adoeceu e não havia substituto para ele. Atendendo pedido do técnico Rinaldi Maya, Djalma passou a presidência do clube ao vice-presidente Chafi Braide e voltou a jogar, ajudando o time a vencer o campeonato estadual. Na decisão contra o Moto o Sampaio venceu por x0, gol de Acy, quebrando um tabu de dois anos e 11 meses sem vitória sobre o time rubro-negro. Em 1976 Djalma deixou definitivamente os gramados e reassumiu a condição de presidente. O Sampaio sagrou-sei bi-campeão maranhense. No Campeonato Brasileiro, o Sampaio contratou para técnico o famoso Djalma Santos. Quando de um jogo no Rio, o treinador deu entrevistas a imprensa falando mal do trabalho desenvolvido pelo clube. Foi demitido na hora. E nem assim os bons resultados apareceram. Pelo contrário, o vexame de duas goleadas seguidas: 5x0 para o Volta Redonda e 7x1 para o Flamengo. Sobrou para o presidente Djalma Campos que assumiu a culpa pelo fracasso e renunciou ao cargo.

 Em 1978 concorreu a reeleição de deputado estadual, mas não venceu. Por volta de 1965, quando Antônio Bento Farias, já falecido vendeu quase todo o time profissional do Sampaio, Djalma foi convidado a ficar no banco de reservas. No segundo tempo entrou em campo e apesar da idade, mostrou toda a técnica que o consagrou como o melhor jogador do futebol maranhense em todos os tempos. evantou o público, dando um verdadeiro show com a incrível habilidade que Deus lhe deu, herança dos seus tempos de futsal. Naquela época a televisão não dava a cobertura esperada aos jogos de futebol. Por isso seu talento ficou reservado apenas aos que o viram jogar. Djalma foi um atleta completo. Além de se dedicar inteiramente à prática desportiva, não fumava e não ingeria nenhuma bebida alcoólica. Em 1988 concorreu às eleições para prefeito de sua terra natal, Viana e venceu. Ao longo de sua vida pública foi ainda diretor executivo e vice-presidente do Instituto de Previdência do Estado do Maranhão (Ipem). Em 2005, como assessor da presidência da Assembléia Legislativa, por gratidão ao deputado Manoel Ribeiro, resolveu assumir ao lado de Humberto Trovão, o departamento de futebol do Sampaio Corrêa. Por desentendimentos dentro do clube, Djalma se afastou do Sampaio e junto com Isaias Pereirinha e Humberto Trovão ajudou a fundar o Iape, o clube caçula do futebol maranhense, hoje na primeira divisão.

Djalma faleceu no dia 7 de agosto de 2009. Eram 5 horas da manhã quando ele se sentiu mal e foi levado pela esposa para o hospital UDI. Lá ele teve um infarto e faleceu. Na noite anterior, o ex-jogador esteve no estádio municipal Nhozinho Santos, junto com o presidente do IAPE, Isaías Pereirinha assistindo o jogo em que seu clube derrotou o Sampaio Corrêa por 2x1. Djalma, que era diretor de futebol teria dito ao final do jogo: “velho, missão cumprida". Como se soubesse o que iria ocorrer, ao sair do estádio passou pela casa onde seus pais haviam morado, na Rua das Palmas no bairro do Desterro, para visitar alguns parentes. O sepultamento aconteceu no cemitério Parque da Saudade, no Vinhais, onde seus pais estão enterrados. Djalma deixou três filhos adultos do primeiro casamento: Djalma Neto, Soraya e Solange. Do segundo casamento com a vereadora vianense Maria José, teve Fábio.

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