sábado, 16 de novembro de 2013

Josenil dos Santos Sousa, o “árbitro boliviano”

Matéria de Edivaldo pereira Biguá e Tânia Biguá, página "Onde Anda Você?", do Jornal O Estado do Maranhão.

Com um nome incomum, nascido da junção dos pais José e Nilta, Josenil dos Santos Sousa veio do interior para ser um nome no Maranhão. Como atleta, fez inúmeras amizades. Impedido pelos pais de ser jogador profissional de futebol, extravasou a frustração e se realizou quando se tornou árbitro. Causou muita polêmica por um dia ter dito inocentemente que nutria afeição pelo Sampaio Corrêa. Carregou o estigma de ser boliviano. Mas, quando se sentia ofendido, retrucava verbalmente, mostrando o mesmo ímpeto de quando era atleta. Tranquilo ao lado da família, recorda os fatos marcantes da sua vida. Josenil lembra sua história pelas fotos que guarda, pelos inúmeros certificados e medalhas de honra ao mérito como atleta e como árbitro.

Nascido em Humberto de Campo a 8 de Outubro de 1943, sua vida mudou quando chegou a São Luis, por volta de 1950. Envolveu-se com o esporte de competição mais organizado no Colégio Marista. Chegou a ser campeão de futebol de campo nas Olimpíadas Estudantis.

No Liceu, já estudante do Científico, o circulo de amizades crescia. Jogando futebol de campo, futebol de salão, voleibol e basquete, chegou a ser campeão de salão em 1962 (7x3 contra o Colégio São Luis) como titular do time formado por Luis Gonzaga, Guilherme Lago, Guilherme Saldanha, Mota, João Carlos (o “Cebeça”), Joe Trinta, Luisinho, Joacy e João Boi “Manga”. Nesse período, jogou salão pelo Vitex (Jesus Itapary, Josenil, Milson Cordeiro, Cabeça, Vavá, Pula-Pula, Inácio Sousa, Mário Alberto, etc.). E foi campeão em 1963 pelo Sampaio dirigido por Jafé Mendes Nunes e que trazia feras, grandes atletas, que ainda hoje fazem parte da memória de muita gente: Milton, Washington, Fifi, João Bala, Catel, Antônio José, Maioba, Tupinambá, Jovenilo e Djalma Campos.

Paralelo a tantas atividades, Josenil dava um jeito de ir, nem que fosse escondido, jogar futebol de campo. Sonhava ser ponta-direita de um time de expressão. Ele conta que recebeu convites para ingressar profissionalmente. “O finado Antônio Bento Farias fez tudo para eu jogar no Sampaio Corrêa. Cheguei a treinar escondido, mas meus pais queriam que eu estudasse. Ficou a frustração”. A paixão pelo jogo continuava viva. Jogou futebol de salão e futebol de campo como bancário – de 1963 a 1974 – e como aluno da primeira turma da Faculdade de Administração – de 1966 a 1970. Participou de inúmeras competições entre bancários e universitários. Mostrava sempre o jeito cheio de vontade de vencer e uma personalidade do tipo “não levo desaforo pra casa”.

 Liceu campeão Estudantil em 1962. Em pé: Gulherme Saldanha, Josenil, Luisinho, Joacy e professor Nerval Lebre. Agachados: João Boi Manga, Guilherme Lago, Luis Gonzaga e João Carlos 'Cabeça'

Josenil e José Rui Aires, na década de 80

A relação com o futebol finalmente aconteceu em 1970. A Federação Maranhense de Desportos organizou um curso de formação de árbitros de futebol. Aprovado em terceiro lugar, atrás de Wan-Lume e Nacor Arouche, Josenil Sousa ingressava em uma profissão pública pouco respeitada e muito cobrada. Aqui ele cometeu um grande erro ao colocar na ficha de inscrição ao curso que o seu time de preferência era o Sampaio. “Todo mundo colocava nesse item que gostava de times pequenos, pouco conhecidos ou de outros Estados. Fui honesto  paguei caro por isso”.

Passando por todos os estágios, iniciando por apitar jogos da Segunda Divisão, chegou à condição de árbitro de aspirantes da Fifa por volta de 1984. Foram 14 anos de muito trabalho, muita confusão e muita polêmica. Recebeu elogios e duras críticas da imprensa. Os dirigentes, principalmente do Moto Club de São Luis, temiam quando sabiam que ele estava escalado para apitar um clássico rubro-negro.

Um grande adversário que tinha era o próprio cunhado, o médico Cassas de Lima, dirigente do Moto, casado com sua irmã Graça. Mas o mesmo Cassas, quando passou pela Comissão de Arbitragem de Futebol, Cobraf, escalava Josenil, mostrando confiança. Cassas comentou: “A gente enquanto dirigente luta pelo seu clube Muitas vezes no meu ponto de vista alguns lances apitados por Josenil eram tendenciosos. Eu falava nos microfones aos jornalistas e era um rebuliço. A polêmica movimentava as competições. Chegávamos a brigar, depois estávamos bem. Quando passei pela Cobraf, sempre afirmava que mesmo eu sendo do Moto, não queria ninguém tendencioso nem mostrando favoritismo. E escalava Josenil sem nenhum problema. Hoje voltamos às condições de cunhados que se dão bem. Sou médico dele”.

A maior oportunidade de Josenil como árbitro de futebol foi apitar Sport (PE) e Guarani (SP), pela final da Série B do Campeonato Brasileiro de 1987. No primeiro jogo, realizado em Campinas, o Guarani venceu por 1x0. No jogo de volta, o que apitou, deu Sport 3x0 e foi para a prorrogação, que terminou empatada em 0x0. A decisão partiu para os pênaltis. O vencedor iria jogar contra o Flamengo (campeão da Série Principal) já com a vaga garantida na Taça Libertadores. Segundo vários comentaristas esportivos, Josenil teve boa participação. E ao fazer voltar um pênalti de um jogador do Sport, alegando que o goleiro do Guarani havia se mexido, pareceu estar favorecendo o time pernambucano. O certo é que o jogo foi encerrado sem que houvesse um vencedor, já que os jogadores dos dois times não quiseram continuar batendo pênaltis e ambos resolveram comemorar o título depois de serem cobrados 26 pênaltis, 11 x 11 no placar. O Sport foi considerado pela CBF como campeão e Josenil recebeu medalha de honra ao mérito. Continuou apitando até 1992. Afastou-se do futebol profissional com 49 anos de idade.

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