terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Semião Buna: lenda viva do Anil


 Matéria de Edivaldo Pereira Biguá e Tânia Biguá, página "Onde Anda Você?", do Jornal O Estado do Maranhão, de 13 de Março de 2000

Uma das formações do Sampaio Corrêa no período de 1956/58: em pé – Dudu, Andrade, Becão, Zé Luzia, Ferreira e Semião Buna; Agachados – Riba, Aldo, Pinagé e dois atletas que Semião não lembrou os nomes

Em 1959, Semião e a filha Vera, nove anos de idade, madrinha do Cruzeiro. Camisa com a faixa transversal e Cruz de Malta.

A família Buna é extensa. Todos do Maranhão são descendentes do italiano Carlos Bunna, que desembarcou em São Luís em 1897, juntamente com a mãe e quatro irmãos. Carlos Bunna teve nove filhos, quatro homens e cinco mulheres. Dentre os homens, o único vivo é Semião. Jogador com passagem rápida pelo Sampaio Corrêa, Semião gostava de bola e também de uma boa briga. Ficou conhecido como “metralha” e “inspetor de quarteirão” por causa do jeito mandão de ser. Apesar de muitas confusões ao longo da sua vida, ele é uma pessoa respeitada e admirada no Anil. Foi fundador do Cruzeiro do Norte, hoje Cruzeiro do Anil. É considerado uma lenda viva no bairro.

A primeira geração da família Bunna usava dois “n” no sobrenome. Dona Inocência Bunna ficou viúva na Itália do senhor Pedro Bunna. Buscando novas perspectivas de vida, pegou os filhos e veio para o Brasil. Desembarcou em São Luís com os cinco filhos, em 1897: Jacó, Domingos, Marinho, Carlos e Roberto. Foram morar na Maiobinha. Por volta de 1915, os cinco já haviam se casado e cada um foi seguindo seu próprio rumo, sendo responsáveis pela segunda geração da família. A partir daí, Buna passou a ser escrito com um “n” apenas. Semiãozinho, um dos outo filhos do seu Semião, vem tentando descobrir onde vive a outra parte da família Bunna vinda da Itália, que foi parar em Minas Gerais. Através dos parentes mineiros, Semiãozinho quer descobrir de que região da Itália veem os Bunna.

Carlos Bunna casou-se com a maranhense Florentina Souza Bunna. Eles tiveram nove filhos: quatro homens e cinco mulheres. Dos homens, o único vivo é o Semião, que nasceu em 24 de Março de 1923 na Maiobinha, onde morou até aproximadamente os quatro anos de idade. Dentre as mulheres, quatro ainda estão vivas. Depois disso, a família mudou-se para o Anil e por lá grande parte permanece até hoje.

As lembranças daquele tempo são muitas. Tudo era muito mais bonito que agora. “O Bairro do Anil, quando eu tinha meus 13 anos de idade, era coisa de cinema. O Rio Azul, com suas águas cor azul-anil, era limpo. Eu e meus colegas acostumamos a limpar com as mãos a fonte do rio. Nossas brincadeiras da época era jogar futebol, brigas e nadar. Quero deixar claro que a briga na minha época fazia parte da educação dos garotos. O interessante era que depois da briga todo mundo se falava e continuava na brincadeira”, conta Semião. Além do futebol e de uma boa briga, conseguimos apurar outra coisa que Semião gostava, e muito: mulher. Um amigo dele chegou a afirmar que ele era demasiadamente mulherengo e não tinha medo dos parceiros das mulheres paqueradas por ele.

Em 1937, a curriola do Semião, Jonas, Mestre, Vadico, Pedrinho, Augusto Cuspalhada, Almir Balata e outros que ele não se recorda, resolveu fundar um time que pudesse competir no campeonato do bairro. Até então tinha o Operário, que era formado por funcionários da Fábrica Rio Anil, empresa que ajudou a desenvolver a comunidade Anilense. Depois, o Operário passou a ser chamado de Botafogo. “Lembro-me quando nos reunimos na beira do rio e resolvemos fundar o time. Antes de mais nada, tinha-se de nomear um Presidente. Por unanimidade, escolhemos Almir Balata. Qual seria o nome do time? Começou a discussão. Os nomes foram os mais variados possíveis. Como quase todos torciam por outros times em outros Estados e foram surgindo Palmeiras, Corinthians, Santos, Vasco, Flamengo e assim por diante. Chegamos à conclusão que o nome deveria ser o de um time que não tivesse torcedor entre o grupo. Deu Cruzeiro, o de Minas Gerais. Para diferenciar, fundamos o Cruzeiro do Norte, em 05 de Março de 1937”. O detalhe nessa história é que no Cruzeiro mineiro o símbolo é um conjunto de estrelas. No Cruzeiro do Norte, o símbolo era a Cruz de Malta, isso porque Semião é vascaíno ranzinza até hoje e foi ele quem mandou confeccionar as camisas.

No Cruzeiro do Norte, Semião foi se destacando como half-esquerdo (lateral) ou como center-half (zagueiro) pela valentia – às vezes em excesso, vontade e determinação; Carrinho Vassoura, ex-atleta do Maranhão Atlético Clube, conta que uma vez quando jogava pelo Botafogo do Anil, na hora que foi bater uma falta, Semião lhe disse: “se fizer o gol, vou te dar umas porradas”. E Vassoura retrucou: “se vieres me bater, te dou um tiro”. A confusão ficou só nisso.

Todos que jogara contra Semião afirmam que dentro de campo ele não reconhecia ninguém. Parecia que a bola para ele era apenas um pretexto para brigar. Por conta disso, ganhou o apelido de “Metralha” e “Inspetor de Quarteirão”. Ele próprio diz que “não guardava almoço para a janta”. Gostava de dar umas cabeçadas. “Apenhei e bati muito. Mas tudo isso no tempo certo. Há 42 anos não brigo com ninguém”.

No Cruzeiro, Semião foi se destacando. Ganhou fama. Foi campeão do bairro três vezes e acabou sendo convidado para vestir a camisa do Sampaio Corrêa, time do coração dele. A estreia oi em 1956, no Santa Izabel, contra o Fluminense/RJ. “Perdemos por 5x1. Nosso gol foi do Manoel Cotia. Nos outros jogos, volta e meia eu era expulso. Joguei profissionalmente no Tricolor até Outubro de 1958. Época em que nasceu o Semiãozinho. Parei de jogar no Sampaio. Também parei de brigar e fiquei correndo atrás da bola no Cruzeiro”.

Com o dinheiro ganho no Sampaio, Semião entrou de sócio com o cunhado Francisco Ribeiro (pai de Toca, atleta que jogou nos principais clubes de São Luís) e compraram uma jardineira. Eles transportavam pessoas do Turu para o Centro e vice-versa. Prosperaram e conseguiram comprar cinco ônibus. “Infelizmente problemas familiares não permitiram que o negócio fosse pra frente. Deus sabe o que faz”.

Semião foi parando com a bola. Continuou ajudando o Cruzeiro do Norte, que em 1977 passou a ser Cruzeiro do Anil. Trocaram a Cruz de Malta pelo conjunto de estrelas. Até hoje a família Buna – sob o comando de Bolero – continua tocando o time que é conhecido com o Leão Azul da Vila Famosa.

12 comentários:

  1. Muito bom esse post sobre a origem da minha família, meu pai nasceu no anil e hoje moramos no Amapá, tenho orgulho da minha origem. obrigado ao autor pela homenagem a nossa família que tem uma história muito bonita.Meu nome é Heider Gonçalves Buna

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  2. Sempre é bom relembrar as origens e a história do futebol maranhense obrigado por esta breve lembrança me chamo Cleber Amaral Buna sou do Estado do Pará

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  3. Maravilhoso saber sobre a origem dos nosso antepassados,Apesar de a família ser grande ,não conheço muito da família Buna ,sou neta de Domingos Farias Buna ,me chamo Kleane Buna Moraes.

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    1. Olá Kleane? Vc é neta de Sandra? Pq.meu pai tinha um irmão chamado Domingos, Raimundo. Se for vc entre em contato comigo. Sou filha de Luis Faria Buna. Bjs

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  4. Não tenho Bruna no nome, mas no coração. Sou neta de Francisco Ribeiro, cunhado de tio Semião. Neta de Natalina Buna e filha de Antônio José Buna Ribeiro, o Toca, que jogou no Moto Clube e no Maranhão Atlético Clube.

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  5. LINDA HISTÓRIA, ME CHAMO ANTONIO JOSÉ BUNA RIBEIRO JÚNIOR SOU FILHO DE TOCA (EX JOGADOR DO MAC-SOBRINHO DE SEMIÃO BUNA)

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  6. Sou Mary Buna. Minha avó Herminia Buna é neta de Marinho Buna e foi criada por ele. Todos os descendentes da Herminia moram no Maranhão e os descendentes dos irmãos dela, todos descendentes de Marinho Buna, moram no Pará e em outros estados.

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    1. Ou seja, nem todos os Buna do Maranhão são descendentes do Carlos Buna.

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  7. Sou neta do Bolero Buna, aquele que hoje continua dando continuidade ao legado da família Buna no futebol. Vou ler a matéria pra ele. Muito interessante saber acerca da história dos meus antepassados.

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