quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Sampaio Corrêa 0x0 Corinthians (SP) - Campeonato Nacional 1977



Como o Sampaio Corrêa havia conquistado o título de Campeão Maranhense em 1976, continuou na competição em 77, pois a CBD havia adotado como critério para participar do Brasileiro, o time vencedor do campeonato do ano anterior. O time maranhense terminou a competição na 42ª colocação e o seu maior feito aconteceu logo na estréia, no dia 16 de outubro, em São Luís, ao empatar em 0 a 0 contra o Corinthians. Três dias antes, o clube de São Paulo havia conquistado um dos títulos mais importantes da sua história, ao vencer o Campeonato Paulista contra a Ponte Preta, quebrando o jejum de títulos que amargava havia 23 anos.

Procedendo de São Paulo, desembarcou no sábado, 15 de Outubro, no Aeroporto do Tirirical, em São Luís, a delegação do Corinthians Paulista, equipe campeã estadual bandeirante. O desembarque ocorreu às 13 horas e a delegação veio chefiada por Isidoro Matheus, irmão do Presidente Vicente Matheus, atual Presidente corintiano. Os demais acompanhantes foram Aluísio Santos (Diretor), Renê de Toledo (Adjunto), Paulo (Mordomo), Rocco (Massagista), José Teixeira (Fisicultor) e João Avelino (Treinador). Jogadores: Tobias e Jairo (goleiros); Zé Maria, Darci, Moisés, Zé Eduardo, Ademir, Vladmir e Cláudio Mineiro (zagueiros), Russo, Luícano e Adãozinho (médios) e Basílio; Lance, Vaguinho, Geraldo (que não jogou somente em Teresina contra o River) e Romeu (atacantes).

Um bom número de torcedores corintianos compareceu ao aeroporto para saudar a equipe. Muitos autógrafos foram solicitados e concedidos principalmente por é Maria, Basílio e Tobias. No mesmo avião que conduziu a delegação corintiana, chegaram vários jornalistas esportivos dos principais diários paulistanos, locutores e comentaristas de seis emissoras da paulicéia.

O ambiente entre os jogadores era de inteiro otimismo quando a uma vitória contra o Sampaio Corrêa e a possibilidade de um empate está sendo considerada pelos jogadores “Mosqueteiros” como uma autêntica zebra. Segundo informações da presidência da delegação, os jogadores não chegaram a cometer excessos durante as comemorações pela conquista do título, fato que deixa bastante tranquilos os dirigentes em São Luís. A delegação ficou hospedada no Hotel Quatro Rodas, na praia do Calhau, de onde somente saiu na tarde do domingo, 16, para o Estádio Nhozinho Santos, momentos antes da partida.

A partida entre bolivianos e corintianos tratava-se de uma partida de futebol ansiosamente esperada pela torcida local, sendo prevista, aliás, pela tabela divulgada pela CBD para a Copa Brasil. O atual elenco do Sampaio não era dos melhores. Esperava-se, portanto, que seus jogadores soubessem honrar o nome do clube e do Estado.

O EMPATE - Repercutiu favoravelmente no seio da torcida Tricolor o empate entre Sampaio e Corinthians, sem abertura de contagem. O resultado até chegou a surpreender alguns dirigentes que, antes mesmo de o jogo começar, davam declarações às emissoras de rádio, afirmando que o resultado até poderia terminar em favor do Corinthians, com pequeno escore. No domingo, 16, muitos foram os comentários da torcida a respeito do jogo e isto motivou bastante em termos financeiros a partida do Sampaio diante da Ponte Preta, sem seu próximo compromisso na competição.

O técnico Moacir Bueno ficou bastante satisfeito com o resultado da partida de domingo, mas fez questão de informar de que não pretendia fazer modificações apressadas, mesmo que chegassem as transferências dos jogadores cearenses adquiridos juntos ao Ferroviário de Fortaleza. Penas um nome teria presença garantida logo de início na partida contra a Ponte, caso ganhasse realmente condição de jogo: tratava-se de Joel, que havia sido contratado para ser titular e mantinha ainda sua boa fase técnica, além de certa experiência em jogos do Campeonato Nacional do qual sempre participou desde que a competição fora implantada.

A tesouraria pagou Cr$ 700 cruzeiros pelo empate diante do Corinthians, o que animou bastante os atletas Tricolores. Em caso de uma vitória sobre a Ponte Preta, a gratificação poderia ser de Cr$ 1.000,00.

O JOGO – o empate entre Sampaio e Corinthians acabou sendo justo para que o apresentaram as duas equipes. De um lado, o Corinthians atacando e, do outro, o Sampaio muito firme no trabalho de desarme tanto na defesa como no meio-campo. Neste setor, Rosclim foi o grande destaque ao lado de Calu, sendo que Carlos Alberto não andava muito bem fisicamente, apesar da inteligência que possuía.

A defesa – começando pelo goleiro Dorival, a grande figura do jogo – esteve bem, com Paulo Fraga e Ademir se entendendo muito bem e anulando as penetrações do centro de ataque corintiano. O mais fraco de todos os setores foi mesmo o ataque, com Cabecinha apenas melhorando um pouco das últimas apresentações, mas ainda sem ser aquele grande jogador de jornadas passadas. Perdeu duas excelentes chances ainda no primeiro tempo para balançar o arco do goleiro Tobias, numa das ocasiões quando afobou-se e atirou para o lado uma bola em que tinha tudo para encobrir o arqueiro. Os dois ponteiros simplesmente não existiram e apenas Bimbinha, que substituiu Xavier no segundo tempo, deu um pouco mais de preocupação à defesa paulistana, com suas fintas curtas em cima do lateral Zé Maria, que em certa ocasião deve de agarrá-lo para não sofrer um drible desmoralizante.

O Corinthians Paulista foi aquela mesma equipe que o povo já estava acostumado a ver pela televisão. Chutes longos, poucas penetrações, lentidão e até demonstrou certo cansaço depois dos 30 minutos. Atirou uma bola na trave, mas nem por isso merecia ter saído de campo como vencedor do jogo. A torcida do Sampaio esteve mais animada do que as outras vezes e de certo modo estimulou sua equipe a conseguir o resultado. Cerca de 500 pessoas retornaram frustradas às suas residências pouco depois das 15 horas de domingo, depois que chegaram à porta do estádio e tiveram a informação de que não havia mais lugares. Apenas 20.710 pessoas conseguiram adentrar ao estádio, proporcionando uma arrecadação de Cr$ 386.865,00.












FICHA DO JOGO

Sampaio Corrêa 0x0 Corinthians (SP)
Data:
16 de Outubro de 1977
Local: Estádio Nhozinho Santos
Juiz: Sebastião Rufino (PE)
Renda: Cr$ 386.865,00
Público: 20.710 torcedores
Sampaio Corrêa: Dorival; Cabrera, Paulo Fraga, Ademir e Ferreira, Rosclim, Kalú (Vavá) e Carlos Alberto; Adão, Cabecinha e Xavier (Bimbinha). Técnico: Moacir Bueno
Corinthians (SP): Tobias; Zé Maria, Moisés, Zé Eduardo e Vladimir; Russo, Basílio e Luciano; Vaguinho, Lance e Romeu (Adãozinho). Técnico: João

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Ferroviário Esporte Clube em excursão à Colômbia (1977)


Belo registro da delegação do Ferroviário esporte Clube na Colômbia, em 1977. Foi uma viagem de mais de um mês, alguns jogos e muitas curiosidades de bastidores - e que estarão, brevemente, no ALMANAQUE DO FUTEBOL MARANHENSE (CLUBES DA CAPITAL).


Semião Buna: lenda viva do Anil


 Matéria de Edivaldo Pereira Biguá e Tânia Biguá, página "Onde Anda Você?", do Jornal O Estado do Maranhão, de 13 de Março de 2000

Uma das formações do Sampaio Corrêa no período de 1956/58: em pé – Dudu, Andrade, Becão, Zé Luzia, Ferreira e Semião Buna; Agachados – Riba, Aldo, Pinagé e dois atletas que Semião não lembrou os nomes

Em 1959, Semião e a filha Vera, nove anos de idade, madrinha do Cruzeiro. Camisa com a faixa transversal e Cruz de Malta.

A família Buna é extensa. Todos do Maranhão são descendentes do italiano Carlos Bunna, que desembarcou em São Luís em 1897, juntamente com a mãe e quatro irmãos. Carlos Bunna teve nove filhos, quatro homens e cinco mulheres. Dentre os homens, o único vivo é Semião. Jogador com passagem rápida pelo Sampaio Corrêa, Semião gostava de bola e também de uma boa briga. Ficou conhecido como “metralha” e “inspetor de quarteirão” por causa do jeito mandão de ser. Apesar de muitas confusões ao longo da sua vida, ele é uma pessoa respeitada e admirada no Anil. Foi fundador do Cruzeiro do Norte, hoje Cruzeiro do Anil. É considerado uma lenda viva no bairro.

A primeira geração da família Bunna usava dois “n” no sobrenome. Dona Inocência Bunna ficou viúva na Itália do senhor Pedro Bunna. Buscando novas perspectivas de vida, pegou os filhos e veio para o Brasil. Desembarcou em São Luís com os cinco filhos, em 1897: Jacó, Domingos, Marinho, Carlos e Roberto. Foram morar na Maiobinha. Por volta de 1915, os cinco já haviam se casado e cada um foi seguindo seu próprio rumo, sendo responsáveis pela segunda geração da família. A partir daí, Buna passou a ser escrito com um “n” apenas. Semiãozinho, um dos outo filhos do seu Semião, vem tentando descobrir onde vive a outra parte da família Bunna vinda da Itália, que foi parar em Minas Gerais. Através dos parentes mineiros, Semiãozinho quer descobrir de que região da Itália veem os Bunna.

Carlos Bunna casou-se com a maranhense Florentina Souza Bunna. Eles tiveram nove filhos: quatro homens e cinco mulheres. Dos homens, o único vivo é o Semião, que nasceu em 24 de Março de 1923 na Maiobinha, onde morou até aproximadamente os quatro anos de idade. Dentre as mulheres, quatro ainda estão vivas. Depois disso, a família mudou-se para o Anil e por lá grande parte permanece até hoje.

As lembranças daquele tempo são muitas. Tudo era muito mais bonito que agora. “O Bairro do Anil, quando eu tinha meus 13 anos de idade, era coisa de cinema. O Rio Azul, com suas águas cor azul-anil, era limpo. Eu e meus colegas acostumamos a limpar com as mãos a fonte do rio. Nossas brincadeiras da época era jogar futebol, brigas e nadar. Quero deixar claro que a briga na minha época fazia parte da educação dos garotos. O interessante era que depois da briga todo mundo se falava e continuava na brincadeira”, conta Semião. Além do futebol e de uma boa briga, conseguimos apurar outra coisa que Semião gostava, e muito: mulher. Um amigo dele chegou a afirmar que ele era demasiadamente mulherengo e não tinha medo dos parceiros das mulheres paqueradas por ele.

Em 1937, a curriola do Semião, Jonas, Mestre, Vadico, Pedrinho, Augusto Cuspalhada, Almir Balata e outros que ele não se recorda, resolveu fundar um time que pudesse competir no campeonato do bairro. Até então tinha o Operário, que era formado por funcionários da Fábrica Rio Anil, empresa que ajudou a desenvolver a comunidade Anilense. Depois, o Operário passou a ser chamado de Botafogo. “Lembro-me quando nos reunimos na beira do rio e resolvemos fundar o time. Antes de mais nada, tinha-se de nomear um Presidente. Por unanimidade, escolhemos Almir Balata. Qual seria o nome do time? Começou a discussão. Os nomes foram os mais variados possíveis. Como quase todos torciam por outros times em outros Estados e foram surgindo Palmeiras, Corinthians, Santos, Vasco, Flamengo e assim por diante. Chegamos à conclusão que o nome deveria ser o de um time que não tivesse torcedor entre o grupo. Deu Cruzeiro, o de Minas Gerais. Para diferenciar, fundamos o Cruzeiro do Norte, em 05 de Março de 1937”. O detalhe nessa história é que no Cruzeiro mineiro o símbolo é um conjunto de estrelas. No Cruzeiro do Norte, o símbolo era a Cruz de Malta, isso porque Semião é vascaíno ranzinza até hoje e foi ele quem mandou confeccionar as camisas.

No Cruzeiro do Norte, Semião foi se destacando como half-esquerdo (lateral) ou como center-half (zagueiro) pela valentia – às vezes em excesso, vontade e determinação; Carrinho Vassoura, ex-atleta do Maranhão Atlético Clube, conta que uma vez quando jogava pelo Botafogo do Anil, na hora que foi bater uma falta, Semião lhe disse: “se fizer o gol, vou te dar umas porradas”. E Vassoura retrucou: “se vieres me bater, te dou um tiro”. A confusão ficou só nisso.

Todos que jogara contra Semião afirmam que dentro de campo ele não reconhecia ninguém. Parecia que a bola para ele era apenas um pretexto para brigar. Por conta disso, ganhou o apelido de “Metralha” e “Inspetor de Quarteirão”. Ele próprio diz que “não guardava almoço para a janta”. Gostava de dar umas cabeçadas. “Apenhei e bati muito. Mas tudo isso no tempo certo. Há 42 anos não brigo com ninguém”.

No Cruzeiro, Semião foi se destacando. Ganhou fama. Foi campeão do bairro três vezes e acabou sendo convidado para vestir a camisa do Sampaio Corrêa, time do coração dele. A estreia oi em 1956, no Santa Izabel, contra o Fluminense/RJ. “Perdemos por 5x1. Nosso gol foi do Manoel Cotia. Nos outros jogos, volta e meia eu era expulso. Joguei profissionalmente no Tricolor até Outubro de 1958. Época em que nasceu o Semiãozinho. Parei de jogar no Sampaio. Também parei de brigar e fiquei correndo atrás da bola no Cruzeiro”.

Com o dinheiro ganho no Sampaio, Semião entrou de sócio com o cunhado Francisco Ribeiro (pai de Toca, atleta que jogou nos principais clubes de São Luís) e compraram uma jardineira. Eles transportavam pessoas do Turu para o Centro e vice-versa. Prosperaram e conseguiram comprar cinco ônibus. “Infelizmente problemas familiares não permitiram que o negócio fosse pra frente. Deus sabe o que faz”.

Semião foi parando com a bola. Continuou ajudando o Cruzeiro do Norte, que em 1977 passou a ser Cruzeiro do Anil. Trocaram a Cruz de Malta pelo conjunto de estrelas. Até hoje a família Buna – sob o comando de Bolero – continua tocando o time que é conhecido com o Leão Azul da Vila Famosa.

Ferreirão, orgulho de Rosário


Matéria de Edivaldo Pereira Biguá e Tânia Biguá, página "Onde Anda Você?", do Jornal O Estado do Maranhão, de 03 de Julho de 2000

Vitória do Mar em 1960. Em pé: Zé Rocha, Batatais, João Cinco, Ferreirão, Misael e Lelé; Agachados: Benedito, Perú, Joãozinho, Belchior e Tarzan

Quando Ferreirão se entendeu como gente, já estava envolvido com o futebol devido ao clima de rivalidade existente entre Comercial x Ferroviário, os dois principais times de Rosário (cidade de nascimento dele, localizada a 70 km de São Luís). Ele teve o prazer de vestir a camisa dos dois times, porém ganhou fama no Ferroviário e, principalmente, na Seleção Rosariense. Profissionalizou-se no Vitória do Mar Futebol Clube e encerrou a carreira aos 34 anos de idade, após uma temporada disputada pelo Nacional, da Rua do Norte. Hoje, próximo de completar 70 anos de vida, se recorda com imensa satisfação quando foi aclamado pela população como o orgulho de Rosário.

José Ferreira Neves nasceu no dia 27 de Julho de 1930. Um irmão (Domingos) e três irmãs (Maria Joaquina, Maria Raimunda e Maria Jose) completam a família cujos pais eram rosarienses, Eugênio Ferreira Neves e Ana Isabel Ferreira Neves. O apelido Ferreirão surgiu assim que ele começou a jogar futebol. Mesmo tendo apenas de 16 para 17 anos de idade, já era dono de um corpo musculoso. O fato de gostar de treinar diariamente e trabalhar em serviços pesados ajudou a desenvolver mais rapidamente o corpo atlético.

Em campo, se destacou pela coragem, garra e determinação. Chutava fortemente com a perna direita ou esquerda e cabeceava bem. Era um centroavante rompedor. Gostava de bater de ‘três’ dedos na bola. Ganhava jogadas no peito e na raça. É evidente que o garoto José Ferreira tinha que ganhar um apelido aumentativo.

COMEÇO – Quem envolveu Ferreirão no futebol foi o irmão Domingos, dois anos mais velho. Domingos era zagueiro central do Comercial. E esse terminou sendo o primeiro time oficial que Ferreirão vestiu a camisa. Com 17 para 18 anos de idade, ele trocava o Comercial pelo Ferroviário. Quando Comercial e Ferroviário anunciavam que iriam se enfrentar, a cidade de Rosário vivia o clima pelo menos de dois a três meses de antecedência. Esses times normalmente jogavam uma ou no máximo duas partidas em um ano. Fora isso, mantinham-se em atividade contra equipes da capital e região vizinhas (Morros, Axixá, São Vicente de Ferrer...). A rivalidade entre Comercial e Ferroviário era grande. Se o Comercial convidasse um time de São Luís e perdesse a partida, não demorava muito e os dirigentes do Ferroviário convidavam o mesmo time, como se quisessem tirar a dúvida entre quem era o melhor. “E se o Ferroviário vencesse, a gozação era grande pra cima dos torcedores e jogadores do Comercial”, relembra Ferreirão.

No jogo entre Comercial e Ferroviário, a rivalidade começava dentro de casa, com Domingos, zagueiro do Comercial e Ferroviário, centroavante do Ferroviário. “Começávamos a discutir a casa quando estávamos nos aprontando. Eu dizia pra ele que iria fazer dois gols e ele retrucava dizendo que me pararia de qualquer maneira. A torcida colocava mais jogo na nossa fogueira e ficava apostando quem iria levar vantagem: eu ou ele. De vez em quando ele me dava umas ‘pegadas’ fortes por trás, mas eu levei a melhor na maioria das vezes”.

DIA DE AZAR – Em 1953, a Seleção de Rosário veio jogar contra a Seleção de Codó, pelo Torneio Intermunicipal.” O jogo estava 4x3 para eles. No finalzinho do segundo tempo, Zico Preto invadiu a área e foi derrubado. Pênalti! E eu fui bater. Sempre optava por chutar forte com a perna direita, batendo de ‘três’ dedos. Quando estava caminhando para a bola, resolvi mudar e chutar de peito de pé. Acabei jogando a bola pra fora. Sofri um ano inteiro em Rosário”, recorda. Isolado, Ferreirão passou a ter uma obsessão: dar a volta por cima e fazer com que a torcida rosariense o chamasse para jogar. Se preparou para isso. Do final do ano de 1953 até meados de 1954, ele trinava sozinho a parte física: antes de sair de casa para p trabalho e no final do dia.

HERÓI – Em 1954, a Seleção de João Lisboa, formada com Rui, Batatais, Carapuça, Cacaraí, Misael, Terrível, Perú, Laixinha e outros grandes jogadores da época, foi enfrentar a Seleção de Rosário, em Rosário. “Zé Lima, dono da amplificadora de Rosário, me escalou no ar. Fui lá e disse que não ia jogar”. Ferreirão participou da preliminar em um time de garotos, como zagueiro. Vencer por 3x0. Chegou a hora do jogão entre Rosário x João Lisboa. O primeiro tempo acabou 2x0 para os visitantes. “Todo mundo veio falar comigo, me pedindo para jogar, até meu irmão. Me fez ver que eu poderia estar desperdiçando uma grande chance e quem sabe não me destacaria e iria para São Luís. Entrei no segundo tempo e fiz os dois gols que derma o empate à nossa equipe. Foi um delírio. Deixei de ser mártir para ser herói. Por onde andava, era cumprimentado e cheguei até a ganhar uns trocados por conta desse jogo. Finalmente eu me aliviei e tirei o rancor de dentro do peito, graças a Deus”.

A partir daí as coisas melhoraram para Ferreirão Titular absoluto da camisa 9 da Seleção de Rosário, foi campeão invicto do Torneio Intermunicipal de 1954, ao lado de Valdir (ou Jonas), Caboclo, Ivan, Chedão, Tica, Chagas, Ferreirinha, Luisinho (ou Mário Moreira), Luís Moura e Zico Preto. “Um grupo fechado, bom e amigo, liderado a princípio por Augusto. Marques e depois, brilhantemente, por Leôncio Rodrigues que nos conduziu ao título e me ajudou a ser o artilheiro da competição, com oito gols”.

EM SÃO LUÍS – Em 1955, Leôncio Rodrigues trouxe Ferreirão para São Luís. Foi trabalhar na estiva e assinou contrato profissional com o Vitória do Mar. Jogou no Vitória oito anos (1955 a 1963). Foi duas vezes vice-campeão Estadual pelo Vitória do Mar. Em 1955 foi artilheiro do campeonato, com oito gols. Para Ferreirão, a melhor formação do Vitória foi em 1960/61: Bastos; Neguinho, Misael, Vareta e Corrêa; João Cristóvão e Belchior; Lobinho, Ferreirão, Joãozinho e Pelezinho.

Em 1964, quando estava com 34 anos de idade, disputou o último campeonato de profissionais jogando pelo Nacional, da Ru Norte. “Eu, Joca e Jaime paramos no mesmo tempo e no mesmo time. Eu gostava tanto de futebol que tinha medo só em pensar m parar de jogar. Quando tomei a decisão, parei de vez e nem peladas bati mais. Tudo tem sua época. A minha, no futebol, ficou para trás a partir daquele dia”.