quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Ferroviário 2x1 Moto Club - decisão do Campeonato Maranhense 1973


Hoje o Blog dedica um espaço sobre a grande decisão do Campeonato Maranhense do ano de 1973, entre Ferrins e rubro-negros. Sobre essa competição, aliás, vale uma pequena ressalva: como o Sampaio Corrêa havia paralisado as suas atividades profissionais no segundo semestre de 1973, o Estadual desse ano acabou entrando em desacordo entre os clubes. Com isso, o campeonato de 73 somente foi realizado em 1974! Isso mesmo. O Estadual de 73 foi disputado entre os dias 21 de Julho de 01 de Outubro de 1974. Imediatamente após o encerramento da competição, o Estadual de 74 foi realizado entre 03 de Outubro e 22 de Dezembro desse mesmo ano.

Moto Club, o campeão do primeiro turno, e o Ferroviário, campeão do returno, decidiram o estadual em uma série melhor de três jogos, conforme combinação prévia entre os clubes. A seguir, deixo algumas notas, extraídas em jornais da época, sobre os acontecimentos na véspera do jogo e a partida decisiva, realizada no dia 01 de Outubro, com a vitória do Ferroviário e o consequente título máximo do certame de 73, além da campanha do time da estrada de ferro naquele campeonato.

Título sairá hoje de qualquer jeito - a Federação nem discutiu a possibilidade de adiar o jogo de hoje para amanhã, mantendo a decisão anterior. A ideia de um adiamento partiu do Ferroviário, levantada pelos dirigentes que se mostravam muito preocupados e confusos após o jogo de domingo, quando perderam dois jogadores para a partida final (Alzimar e Ferreira) e inclusive se apressavam em dizer que “a ideia do terceiro jogo não partiu do Ferroviário”. Para os dirigentes do Moto, a reação foi justamente ao contrário e todos defendiam a necessidade de fazer o jogo hoje mesmo como estava combinado. A Federação ontem reuniu o Departamento de Futebol, quando tomou as providências finais para o jogo, marcado para as 21h15. A Divisão de Árbitros, à tarde, já havia indicado as autoridades escolhendo Wilson Valume para mediador central, com laterais de Ronald Monassa e Lercílio Estrela, adotando o critério de rodízio que vem sendo feito desde o início do campeonato.

A melhor de três pontos que decide o campeonato de 73 está regulamentada pelo artigo cinco, que estabelece a disputa de trinta minutos de prorrogação no caso de empate no tempo normal. Persistindo o empate, serão cobrados cinco pênaltis para cada equipe por jogadores diferente. Caso ainda continuem empatados serão sobrados séries de três pênaltis para cada equipe até que seja conhecido o vencedor. Com o término do campeonato, o Moto garantiu a conquista da Taça Eficiência, com 90 pontos ganhos, e o goleiro Marcial, do Ferroviário, receberá o troféu Honra ao Mérito, por ter sido o menos vazado (4 gols em 11 jogos). O troféu de artilheiro ainda não tem dono. Lima e Paraíba estão empatados com 4 gols, ficando a decisão para o último jogo esta noite.

Em consequência do adiamento da decisão do certamente de 73, a primeira rodada do campeonato de 74 ficou transferida para quinta-feira, marcando os jogos São José x Maranhão e Sampaio contra Vitória do Mar. Nos jogos do campeonato 74, entraram em vigor o novos preços dos ingressos (majoração de 1,00), as novas determinações do uso do cartão amarelo e o sistema de carnês que estão sendo vendidos desde a semana passada.

Doping: resultado negativo – a Federação Maranhense de Desportos informou ontem extraoficialmente que foi negativo o resultado do exame antidoping feito pelo laboratório da Faculdade de Farmácia, em material fornecido pelos jogadores Santana e Paraíba (Moto), Vivico e Jorge Santos (Ferroviário). Semente hoje a Federação deverá expedir nota sobre o assunto, dando maiores detalhes. Os exames dos jogadores Alzimar e Ferreira (Ferroviário) e Esteves e Lima (Moto) foram encaminhados ontem ao mesmo laboratório, devidamente protocolado pela FMD. Hoje o exame será repetido em mais dois jogadores de cada time, sendo escolhidos pelo médio da Federação de comum acordo com o Presidente Olímpio Guimarães. Todas as despesas decorrentes dos exames serão pagas pelo Ferroviário, que pediu que fossem feitos em todos os jogos da série decisiva. Não se sabe ainda qual o custo total, mas os dirigentes não se mostraram preocupados com o preço e consideraram que mesmo com o resultado negativo, conseguiram o que desejavam, “tranquilizar o time adversário”. Para o campeonato de 74 a Federação poderá escolher um jogo, de surpresa, para fazer o exame, visando controlar o uso do doping, mas de preferência a entidade pretende autorizar os exames só quando solicitada pelo clube interessado.

Ferrim desfalca a defesa na hora de decidir – exatamente quando mais precisava jogar com o time completo, especialmente a defesa, que é o ponto alto do time, o Ferroviário se vê às voltas com o que é pior, sem tempo para recuperar jogadores ou tentar uma organização melhor em seu sistema de retaguarda desfalcada de Alzimar (três cartões amarelos) e Ferreira (expulso) e que cumprirão suspensão automática. Talvez por isso os dirigentes tricolores se arrependeram quando depois do jogo de domingo lamentavam o acordo feito para o terceiro jogo e procuravam adiar a decisão, no que não foram atendidos. Para o técnico Moacir Bueno, o jogo “foi equilibrado e não houve nada de marmelada. Todo mundo procurou ganhar e não foi possível”. Mais preocupado com os desfalques do time (agravados com a ausência de Carlos Alberto) do que com o resultado, o treinador tricolor começou logo nos vestiários a fazer cálculos para saber como superar os problemas. Como o time não tem banco, as opções são poucas, o que leva o técnico a fazer improvisações. Uma delas seria a escalação de Peixinho para a lateral no lugar de Ferreira e que foi logo afastada pelo treinados: “ele é muito novo e não dá para acompanhar o Coelho e tem que ser marcado em cima”. Assim, ali mesmo no vestiário Moacir Bueno decidiu fazer uma improvisação com Jorge Santos, que vai para a lateral, sendo substituído por Gojobinha no meio de campo Para o lugar de Alzimar está confirmada a entrada de Gaspar mesmo contra a vontade do técnico, que não gostou da sua contratação no jogo contra o Maranhão.

Ontem Moacir Bueno reuniu os que não jogaram e anunciou um treino onde os mais empenhados foram justamente Gaspar e Gojobinha, que vão entrar no time. Jorge Santos conversou com o técnico e não se recusou a jogar na lateral: “não tem problema. Sei marcar e se me botarem para o lateral, vou fazer o possível. Marcar o Coelho não é difícil. Ele só joga com a esquerda. É marcar esse pé dele e pronto. O drible é manjado, só para um lado e não tem mistério”.

Os demais jogadores ontem tiveram o dia livre e se apresentaram à tarde para a concentração, o que não faziam há muito tempo. A ideia de concentrar o time partiu da própria diretoria e do próprio treinador, que achou conveniente determinar o máximo repouso a todos os jogadores. Não houve nenhum problema de confusão e todos os jogadores estão liberados pelo Departamento Médico. Os tricolores reconheceram que ficou mais difícil, mas não perdem as esperanças. Para os jogadores, apenas uma recomendação especial do técnico: “Marcar Lima e Coelho em cima, especialmente Lima. Se deixar cruzar, pode dar zebra, pois já levamos até gol de cabeça, o que há muito não acontecia.”.

Moto a um passo do título – preocupados com a renda que consideram pouca, “esperavam mais da torcida do Moto”, com a expulsão de Santana, os dirigentes do Moto só respiraram mais aliviados e alguns sorriram quando no vestiário souberam que, além de Ferreira, o Ferroviário ficará também sem Alzimar para a partida final e não conseguiram disfarçar um ar de otimismo e confiança pela conquista do título que fica mais perto. O resultado de 1x1 foi recebido com naturalidade e não se ouviu as lamentações do primeiro jogo, quando o Moto cedeu o empate. Como a situação no domingo foi ao contrário (o Moto foi que conseguiu empatar), o resultado agradou e tudo passou rapidamente a girar em torno do terceiro jogo. Os diretores anunciaram que o time iria ficar concentrado no Olho D’água Palace Hotel, notícia recebida com muita satisfação pelos jogadores cansados do desconforto do casarão da Rua 28. Santana lamentava ficar fora da decisão e considerava injusta a expulsão: “não houve nada. Estava só conversando com o Ferreira. Enquanto isto Zé João admitia sua escalação no time para começar jogando no lugar de Santana e comentou que esperava essa oportunidade há muito tempo. Fiz três gols em quatro jogos e se me derem a chance, ainda posso ser artilheiro”.

Dr. Cassas fez uma ligeira revisão e constatou que não houve nenhuma contusão, aconselhando o plantel a ficar concentrado logo depois do jogo, o que foi feito. Ontem treinaram os que não jogaram e a equipe, apesar de também não ter um bom banco, pode resolver o problema de ausência de Santana com mais facilidade do que o adversário que está obrigado a improvisações. Pelo que decidiu a direção técnica, Zé João continuará no banco como primeira opção para o ataque e Lima será recuado para o meio-campo, entrando Gilberto pela ponta-direita. Contudo, esta modificação não pode ser dada como definitiva, sendo possível outra opção que permita a permanência de Lima na ponta-direita, onde ele sabe jogar e é fundamental na criação das situações de gol pela extrema. Hoje haverá revisão e a diretoria anunciou que pagará bicho pelo título.

O árbitro Wilson de Moraes Van Lume e os jogadores antes da decisão

 Lance do primeiro gol do Ferroviário


Ferroviário Esporte Clube, campeão maranhense de 1973 – com apenas duas jogadas desenhadas pela diretoria, oportunismo de Saneguinha, as falhas do goleiro Edson e a segurança de Marcial, que se constituiu na grande figura do jogo, o Ferroviário marcou 2x1 sobre o Moto, ganhando o título de campeão de 73, que parecia quase impossível ao time tricolor antes da série melhor de três. Virando o primeiro tempo com a vantagem no marcador, o Ferroviário se retrancou na fase final, resistindo 45 minuto encurralado no campo de defesa, resistindo a um verdadeiro bombardeio do time do Moto, que não chegou ao empate pelas milagrosas intervenções de Marcial.

Aproveitando sua melhor opção de ataque, o Ferroviário foi feliz e abriu a contagem aos 16 minutos, quando Saneguinha ganhou de Carlos Alberto e chutou da entrada da área, Edson largou e na esquerda Ozimir apanhou o rebote quando o goleiro já tinha praticamente recuperado a jogada. Com 1x0 o Ferroviário se animou, crescendo de produção, enquanto o Moto começou a falhar na marcação, dando espaço ao adversário, com a defesa cobrindo muito mal. Aos 20 minutos, Saneguinha repetiu a mesma jogada do gol, passando inclusive pelo goleiro Edson, mas acabou se atrapalhando na finalização e o goleiro recuperou a posse de bola. Aos 35 minutos Sanega marcou o segundo gol em outra investida pela direita, passando por Edson, que como no lance do primeiro gol, deixou o atacante sair com a bola depois de ter feito a defesa em seus pés. Com 2x0, o Moto se desorientou, mas o Ferroviário não criou mais situações de gol, passando mais a prender o jogo, Aos 37 minutos o Moto teve uma oportunidade, quando Lima chutou violentamente e Marcial mandou para escanteio. Aos 38, Soares diminuiu a contagem com um chute longo da intermediária, com Marcial sendo traído pelo pique da bola. O Moto tentou reagir, mas o tempo esgotou.

Para o segundo tempo o Moto voltou disposto a decidir. Foi todo ataque e exigiu o máximo do goleiro Marcial em arrojadas e milagrosas intervenções durante todos os 45 minutos, não dando tempo nem ao Ferroviário de tomar fôlego na jogada. Com sucessivas faltas e escanteios, o Moto procurou o gol até o último minuto, num jogo que passou a ser catimbado, violento e nervoso para a torcida rubro-negra à medida que o tempo passava. Pelo menos por quatro vezes a torcida do Moto ficou com o grito de gol na garganta.

Carlos Alberto saiu aos 35 minutos substituído por Barnabé, depois de dar uma valiosa contribuição ao time tricolor. O Moto ainda lançou Zé João para dar força ao ataque, mas o Ferroviário já estava com pinta de campeão e garantiu. Tecnicamente o time tricolor teve uma falha quando recuou muito no segundo tempo, permitindo a evolução do Moto. Os rubro-negros consertavam a defesa no intervalo com a entrada de Carlito na lateral-esquerda, passando Carlos Alberto para o meio. Saiu Saneguinha, que acabou substituído porque só fez os dois gols nas falhas de Carlos Alberto e Carlito saiu expulso no último minuto. Um bom jogo e o Ferroviário mereceu o título pela regularidade do time, a humildade do seu treinador, empenho e raça do plantel na partida decisiva.

FICHA DO JOGO

Ferroviário 2x1 Moto Club
Local:
Estádio Nhozinho Santos
Juíz: Wilson de Moraes Van Lume
Bandeirinhas: Ronald Monassa e Lercilio Estrela.
Renda: Cr$ 33.049,00
Público: 7.898 torcedores
Gols: Ozimir aos 17, Saneguinha aos 25 e Soares aos 40 minutos do primeiro tempo
Expulsão: Carlito, aos 44 minutos do segundo tempo
Ferroviário: Marcial, Gojobinha, Gaspar, Vivico e Carrinho; Isaías, Jorge Santos e Carlos Alberto (Barnabé); Saneguinha (Castro), Nivaldo e Ozimir. Treinador: Moacir Bueno.
Moto Club: Edson, Ivan, Neguinho, Sérgio e Antônio Carlos (Carlito); França (Zé João), Lima e Soares; Gilberto, Paraíba e Coelho. Treinador: Marçal Tolentino Serra

CAMPANHA

Primeiro Turno
25/07/1974-Ferroviário 1x0 MAC
28/07/1974-Ferroviário 1x0 Vitória do Mar
04/08/1974-Ferroviário 0x0 São José
08/08/1974-Ferroviário 2x0 Sampaio Corrêa
11/08/1974-Ferroviário1x0 Moto Club

Segundo Turno
21/08/1974-Ferroviário 2x0 São José
25/08/1974-Sampaio Corrêa 0x0 Ferroviário
28/08/1974-Moto Club 2x0 Ferroviário
08/09/1974-Ferroviário 0x0 Vitória do Mar
22/09/1974-MAC 1x0 Ferroviário

Final (melhor de três)
25/09/1974-Ferroviário 1x1 Moto Club
29/09/1974-Ferroviário 1x1 Moto Club
01/10/1974-Ferroviário 2x1 Moto Club

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